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"Os refugiados continuam extremamente vulneráveis", alerta plataforma portuguesa

20 fev, 2020 - 12:04 • Redação

Coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, André Costa Jorge salienta à Renascença que "não é possível existir integração se não houver uma boa relação entre aqueles que acolhem e aqueles que são acolhidos".

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A União Europeia é palco de uma crise de refugiados desde 2015 e apesar do tema já não atrair tanta atenção mediática, a situação está longe de estar resolvida, como conta à Renascença, André Costa Jorge, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), que será reeleito para o cargo, esta quinta-feira.

“O que vamos acompanhando no terreno, fora e dentro de Portugal, demonstra que os refugiados continuam extremamente vulneráveis. Nos campos de acolhimento, sobretudo na Grécia, há relatos de menores a cometer suicídio, o que espelha bem o sofrimento psicológico em que as pessoas estão. Também as mulheres estão muito desprotegidas, são vítimas de abusos recorrentemente”, explica André Costa Jorge.

Em Portugal, a plataforma já acolheu perto de 800 refugiados, mas é importante continuar a reforçar os procedimentos. “Não podemos deixar as pessoas entregues à sua sorte nestes lugares, em que não têm condições. Temos de reforçar os mecanismos de solidariedade, nos quais Portugal também participa, como a recolocação e temos que reforçar modelos e vias legais de acolhimento dos mais vulneráveis, sobretudo das crianças”.

Em relação às pessoas, que depois de acolhidas em Portugal, decidem abandonar o país, André Costa Jorge recusa a ideia de fuga – "porque estes refugiados não estão presos" – e assegura que faz parte destes processos, sobretudo, porque há várias razões que levam as pessoas a transitar de um país para outro, nomeadamente, a vontade de reunir toda a família, que, muitas vezes, nestes processos de recolocamento são separadas.

André Jorge não tem dúvidas que “as pessoas acolhidas são para nós uma riqueza, acrescentam valor à nossa sociedade, porque acrescentam diversidade e isso é bom” e realça o mérito de várias pessoas que permanecem no país, "não sabendo nada sobre Portugal, não conhecendo uma palavra de português e não tendo qualquer laço com a comunidade", porque se identificam e desejam ficar no país, fazendo um esforço para se integrarem. "Isto é difiícil, sobretudo no caso dos refugiados, em que há todo um sofrimento que tem de ser ultrapassado", acrescenta.

De olhos postos no futuro, a Plataforma de Apoio aos Refugiados quer melhorar os processos de acolhimento, envolvendo as comunidades e agilizando o acesso ao ensino da língua portuguesa e à documentação, para que rapidamente possam transitar para o mercado de trabalho e para uma habitação, duas dimensões essenciais para que se possam integrar e autonomizar. E salienta que "não é possível existir integração se não houver uma boa relação entre aqueles que acolhem e aqueles que são acolhidos”.

Esta organização quer “também ser uma voz de sensibilização e de alerta para a crescente e perigosa onda que promove sentimentos de insegurança e de xenofobia, que perpassam na Europa e também em Portugal”, porque se não falarmos, acabamos por “favorecer as vozes que procuram atacar o outro".

A Plataforma de Apoio aos Refugiados surgiu em 2015 para dar uma resposta concertada à crise mundial dos refugiados. A iniciativa partiu da sociedade civil e, atualmente, conta com a cooperação de mais de 350 organizações. Em 2017, o Parlamento Europeu atribuiu à PAR o «Prémio do Cidadão Europeu 2017», como reconhecimento enquanto organização que promove a integração europeia e a compreensão entre os povos.

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