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Trabalhar no Reino Unido. Novo sistema de pontos descarta os menos qualificados

19 fev, 2020 - 12:27 • Marta Grosso com agências

Depois do período de livre circulação, todos aqueles que queiram trabalhar no Reino Unido, sejam ou não cidadãos da UE, serão tratados da mesma maneira. Saiba como atingir os pontos necessários.

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Falar inglês, ter boas qualificações e um salário mínimo de 25.600 libras (30.800 euros) são alguns dos fatores que contribuem para uma boa pontuação no novo sistema de pontos que o governo britânico quer implementar para a imigração.

O mecanismo deverá ser implementado no início de 2021, altura em que termina o período de transição pós-saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) – período que estendeu a liberdade de circulação a cidadãos da UE até ao fim de dezembro (recorde-se que o Reino Unido deixou formalmente o bloco europeu em 31 de janeiro).

De acordo com o Ministério britânico do Interior, findo esse prazo, cidadãos da UE e de fora da UE que viajem para o Reino Unido serão tratados da mesma maneira. Em declarações à BBC, a ministra Priti Patel diz que o governo pretende "incentivar as pessoas com o talento certo" e "reduzir a quantidade de pessoas que chegam ao Reino Unido com poucas habilitações".

O executivo de Boris Johnson pretende, assim, filtrar os melhores e impedir que trabalhadores menos qualificados entrem no país. Para estes, aliás, deixará de haver vistos.

As empresas são exortadas a "deixar de contar com" mão-de-obra barata “da Europa e investir na retenção de funcionários e no desenvolvimento de tecnologia de automação”.

Em caso de escassez de mão-de-obra, Priti Patel diz que as empresas podem recorrer aos oito milhões de potenciais trabalhadores "economicamente inativos" que existem no país – uma ideia que o Partido Nacional Escocês considera “ridícula e perigosa”, dado que muitas destas pessoas sofrem de "problemas de saúde ou ferimentos".

Os trabalhistas criticam o sistema de pontos em geral, argumentando que criará um "ambiente hostil" à atração de trabalhadores.

De acordo com este novo mecanismo, empregados/as de mesa e certos tipos de trabalhadores agrícolas não contam como trabalhadores qualificados, mas a lista passa a incluir carpintaria, reboco e cuidados infantis.

O governo admite ainda regras específicas para setores como a investigação científica ou a agricultura, tendo quadruplicado o número de trabalhadores sazonais autorizados, de 2.500 para 10.000, que podem ser contratados por empresas agro-alimentares, no âmbito de um sistema paralelo.

Como conseguir os 70 pontos necessários?

Imagine que é um investigador universitário. Se tiver uma licenciatura numa área ligada à tecnologia, à matemática, à engenharia ou à ciência, conta desde logo com 20 pontos.

Se tiver uma proposta de emprego no Reino Unido, acrescenta mais 20 pontos e mais 20 se o emprego estiver à altura da sua qualificação académica.

Se falar inglês, tem direito a mais 10 pontos.

A língua inglesa é um fator importante para todos os candidatos. Se falar inglês e tiver uma proposta de trabalho de um “patrocinador aprovado”, obterá automaticamente 50 pontos.

Os restantes 20 dependem das qualificações académicas, do salário proposto e do facto ir trabalhar para um setor com falta de mão-de-obra.

No que toca ao salário, o sistema impõe um limite mínimo anual, que desce de 30.000 (cerca de 36 mil euros) para 25.600 libras (30.800) para trabalhadores qualificados que desejem trabalhar no Reino Unido.

Este limite baixa para 20.480 libras (24.600 euros) para pessoas em “ocupações específicas em falta” – que atualmente incluem enfermagem, engenharia civil, psicologia e dança clássica – ou para aqueles com doutoramento relevante para uma determinada função.

Deixa, assim, de haver um número limite para a entrada de trabalhadores qualificados no Reino Unido.

Atualmente, vivem no Reino Unido mais de três milhões de cidadãos da União Europeia, dos quais centenas de milhares trabalham na agricultura, na saúde e em restaurantes, com salários relativamente baixos.

“Irresponsável” e “com defeitos”, dizem críticos

Os empregadores das indústrias que empregam mais imigrantes receiam uma escassez de trabalhadores com as novas regras.

A Associação de Assistência Domiciliar do Reino Unido descreveu a falta de provisões para trabalhadores imigrantes mal remunerados nas propostas como "irresponsável".

"Cortar a oferta de profissionais em tratamento sob um novo sistema de migração abrirá o caminho para mais pessoas que esperam desnecessariamente no hospital ou ficam sem atendimento", afirmou.

A deputada do Partido Trabalhista Diane Abbott diz que o novo sistema tem "defeitos" e que, por isso, "vai precisar de ter muitas isenções para o serviço nacional de saúde, para assistência social e muitas partes do setor privado”, pelo que “vai deixar de fazer sentido”.

Pelos Liberais Democratas, a deputada Christine Jardine denunciou as propostas como sendo "baseadas na xenofobia, não nas necessidades sociais e económicas do nosso país" e salientou o reduzido tempo de dez meses para as empresas e organismos se adaptarem.

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