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Lisboa

Insegurança em Carnide. Moradores exigem reabertura de esquadra encerrada pelo Governo

17 fev, 2020 - 13:00 • Redação

A Esquadra 42 da PSP, em Carnide, Lisboa, está encerrada desde outubro de 2019, alegadamente por falta de condições do edifício. Os moradores e a junta de freguesia queixam-se do aumento da insegurança e querem reverter a situação, se necessário "com o nosso próprio dinheiro".

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Moradores e Junta de Freguesia de Carnide unem-se, esta segunda-feira, pelas 18h30, numa ação pública para exigir a requalificação e reabertura da Esquadra 42 da PSP, fechada há mais de quatro meses, pelo Governo, alegadamente por falta de condições do edifício.

O presidente da Junta de Freguesia, Fábio Sousa, diz à Renascença, que o encerramento da esquadra tem feito aumentar a sensação de insegurança entre os moradores e comerciantes e também a criminalidade.

Por estas razões, o autarca considera essencial que a esquadra seja reaberta “o mais rapidamente possível” e, tendo em conta, a relutância do Governo em fazê-lo, exige que lhe sejam “confiadas as chaves do edifício” para que possam requalificá-lo e acolher, de novo, os cerca de 70 agentes que foram recolocados nas esquadras do bairro Padre Cruz e Horta Nova.

“Se o Governo não quer encontrar uma solução tripartida, entre a junta, a câmara municipal e o próprio ministério da Administração Interna, então que nos deixem fazer parte da solução. Aquele espaço o que precisa é de obras de requalificação, não é de estar fechado. Sobretudo, porque tinha altos níveis de produtividade”, afirma Fábio Sousa.

"Mega esquadra" no horizonte?


O autarca diz que a falta de condições da esquadra não parece, contudo, ser a única razão para o encerramento da esquadra. Apesar de nunca ter conseguido reunir com o ministro da Administração Interna - facto que lamenta - Fábio Sousa foi informado pela secretaria de Estado de que, por parte do Governo, “não existe qualquer vontade de reabrir a esquadra”, por serem “a favor de uma mega esquadra, onde se concentrassem todos os agentes”.

Contactado pela Renascença, o Ministério da Administração Interna confirmou que o futuro da esquadra será decidido no “âmbito de um reordenamento do policiamento de Lisboa”, mas assegurou que o encerramento não se traduziu na redução do policiamento nas ruas e que a criminalidade até diminuiu desde que a esquadra encerrou, de acordo com o número de ocorrências registadas.

Para Fábio Sousa, a opção por esquadras muito grandes - que não é recente, nem exclusiva deste Governo - exclui por completo a proximidade, apesar do objetivo ser, precisamente, o contrário: libertar agentes de funções administrativas e enviá-los para as ruas, para junto das populações.

"Quando cá chegam, já não se passa nada"


Para os moradores e comerciantes da zona de Carnide, é óbvio que algo está a falhar, porque, desde que a esquadra foi encerrada, sentem os polícias cada vez mais distantes e ineficazes e a falta de meios é apontada como uma das principais razões.

Júlio, proprietário de um restaurante no centro histórico, não tem dúvidas de que a insegurança aumentou. “Desde que a esquadra fechou, isto piorou bastante. Antigamente, as pessoas estavam mais seguras, porque estavam aqui a dois minutos e agora estão lá longe. E segundo sei, eles só têm um carro, se o carro for chamado para alguma aflição e nós tivermos aqui algum problema, eles terão de vir a pé. E eles virem a pé do Bairro Padre Cruz até aqui demoram, no mínimo, meia hora. Quando cá chegam, já não se passa nada”.

Beta trabalha numa peixaria e afirma que desde que a esquadra encerrou “passamos dias inteiros sem ver uma autoridade na rua”. “Antes eles andavam sempre por aqui, a passar a ronda, falavam com os moradores, com os comerciantes. Agora é muito raro. Ficámos sem segurança mínima” desabafa.

À medida que passeamos pelo centro histórico de Carnide, zona de prédios baixos e ritmo lento, que contrasta fortemente com a azáfama de grandes infraestruturas que estão mesmo ali ao lado, (como o centro comercial Colombo ou a 2ª circular), percebemos que a sensação de insegurança é generalizada.

Uma das maiores preocupações é a população mais idosa que aqui reside. "Se não fosse o movimento que os restaurantes trazem, os velhinhos já tinham sido todos assaltados”, afirma outro comerciante.

E multiplicam-se os relatos de quem conhece alguém que já foi assaltado, na rua ou em casa, e também de pequenos desacatos noturnos devido a um estabelecimento que fica aberto “até mais tarde do que devia”.

Agentes da PSP "estavam mal, mas foram transferidos para pior", afirma Fábio Sousa


Para além de denunciar as queixas de insegurança que lhe chegam dos moradores e comerciantes, o presidente da Junta dá também voz ao que afirma ser o "degradar da situação dos profissionais da PSP".

“Se estavam mal, foram transferidos para pior. A realidade é essa. E, por isso, fazemos também um apelo muito grande ao ministro da Administração Interna para que venha conhecer as condições em que estes agentes estão a trabalhar.”

Os moradores, que afirmam ter tido sempre uma relação muito próxima com os polícias, que eram "autoridade, mas também vizinhança", acusam o Governo de ter gerido de forma inaceitável o fecho da esquadra, que "foi encerrada de uma hora para outra” e que nem os polícias souberam atempadamente, “quanto mais a população”.

A Renascença está a aguardar esclarecimentos sobre o assunto por parte da PSP, mas ao que conseguiu apurar, junto de um agente recolocado noutra esquadra, esta insatisfação é sentida por algum destes profissionais. “Se estávamos mal, agora estamos pior”, afirmou o polícia.

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