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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tentar perceber

Depois do Brexit… o Brexit

15 fev, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A insistência de Boris Johnson em concluir o acordo até 31 de dezembro próximo é irrealista e poderá levar a uma saída da UE sem acordo.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson é um personagem muito diferente do Presidente americano Trump. Mas existem algumas semelhanças. Por exemplo, na ânsia de se rodearem de gente incondicional, que não se lembre de contradizer o chefe. Daí a remodelação-surpresa do governo britânico na quinta-feira.

Outra semelhança está em tratar mal os jornalistas que publiquem textos que desagradem ao poder. Há dias um jornalista do “Daily Mirror” foi impedido de participar num “briefing” no nº 10 de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro; solidarizando-se com o colega banido, todos os outros jornalistas abandonaram o “briefing”.

Nada disto augura negociações sérias e rápidas sobre o futuro relacionamento entre o Reino Unido e a UE, as quais apenas em março se iniciarão a sério. Aliás, os britânicos já começaram a não respeitar regras do mercado único europeu, ao contrário do que se comprometeram no acordo de saída (até ao final deste ano).

Depois, a insistência de Boris Johnson em concluir o acordo até 31 de dezembro próximo é irrealista e poderá levar a uma saída da UE sem acordo. Tem sido lembrado que acordos comerciais, como o da UE com o Canadá, levaram cerca de sete anos a negociar. A menos que se fique apenas por um acordo parcial, o que não dará confiança aos agentes económicos.

Michel Barnier, de novo o negociador-chefe da UE, irá receber um mandato do Conselho Europeu; já ofereceu aos britânicos um acordo de comércio livre, sem direitos alfandegários nem restrições quantitativas. Mas com condições para não distorcer a livre concorrência no mercado europeu: as exportações britânicas para esse mercado teriam de respeitar as regras europeias em matérias ambientais, nos padrões laborais, quanto a subsídios do Estado a empresas, etc. E o Reino Unido teria de permitir o acesso a pescadores da UE às águas marítimas britânicas.

Boris Johnson logo rejeitou com veemência aceitar tais condições. Assim como não se mostrou disponível para que o Tribunal Europeu de Justiça tenha, desde já, qualquer jurisdição sobre cidadãos, bens e serviços britânicos. E acrescentou que ficaria satisfeito se conseguisse alcançar com a UE um acordo comercial “semelhante ao que esta tem com a Austrália”. Só que a UE não tem, ainda, qualquer acordo comercial com a Austrália…

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