11 fev, 2020 - 06:59 • Ângela Roque
A Missão País começou em 2003, com apenas 20 jovens, mas 17 anos depois já está em 55 faculdades de todo o país, envolvendo um total de 3.377 estudantes.
“O projeto começou em Lisboa, depois foi para o Porto, Coimbra e Évora, e este ano começou em Aveiro, Leiria, Santarém e Algarve, houve uma expansão grande”, diz à Renascença Joana Sequeira, uma das chefes nacionais da edição 2020, para quem “é uma grande alegria vermos isto a ser construído: termos 480 chefes apaixonados pelo projeto, uma equipa nacional que trabalhou o ano todo por isto, e mais de três mil jovens universitários a ter esta experiência de Deus e de doação de si”.
Joana já participou em quatro missões. “Vou agora para o quinto ano de faculdade, e por isso este é o meu quinto ano de missões”, explica a estudante de psicologia, para quem “mais do que uma responsabilidade, foi uma graça” poder estar à frente do projeto. “Dá trabalho, é exigente, implica tempo, gerir pessoas, e às vezes pequenos conflitos, mas crescemos muito a nível pessoal”.
Para Miguel Cordovil Pinho esta é também a quinta Missão País em que participa, desta vez como chefe nacional. À pergunta “o que é muda depois de se fazer missão?”, o estudante de engenharia do Instituto Superior Técnico responde, sem hesitar: “muda a forma de viver a minha fé”.
“Eu acredito que a fé católica deve ser vivida em missão, e a Missão País trata disso. E se no meu caso até é fácil, porque tenho um seio familiar católico, lá fora, na escola, na universidade, é mais difícil”, conta, acrescentando que depois de fazer missão passou a “dar importância a pequenas coisas” que antes não dava, e a ver os outros de maneira diferente. “Ficamos mais próximos de Deus”, acrescenta Joana, que pessoalmente passou a dar mais valor aos momentos de oração e à missa diária.
A Missão País nasceu pela mão do Movimento Apostólico de Shoenstatt, mas ao longo dos anos foi envolvendo outros movimentos e diferentes sensibilidades da Igreja, como as Equipas de Jovens de Nossa Senhora, a Companhia de Jesus, o Opus Dei, os Jovens Sem Fronteiras (dos missionários espiritanos), a Família Missionária Verbun Dei ou os universitários do Comunhão e Libertação.
Mas, o que leva tantos jovens a querer fazer Missão País? Miguel Cordovil Pinho diz que apesar deste ser um projeto assumidamente católico – “isso é claro na forma como nos apresentamos” – está aberto a quem queira participar.
“Tenho amigos que não são católicos, não acreditam em nada, já fizeram missão e saíram de lá transformados”. E já aconteceu alguns converterem-se. “Há inúmeras histórias dessas, até de pessoas que descobriram a sua vocação e foram para o seminário”, garante Miguel. Joana acrescenta: “e houve casais que se conheceram nas missões, e hoje em dia estão casados”.
Para os dois a Missão País foi importante para “criar amizades” e estreitar relações. Miguel lembra que em missão “todos abrem o coração para se dar e conhecer, e isso é muito importante depois para o dia a dia, já fora da missão, entre colegas da mesma faculdade”, e tem garantido que o projeto se prolongue para além da semana de missão, com a criação dos Núcleos de Estudantes Católicos (NEC).
“Tenho a sorte de poder falar do exemplo do Técnico, que já tem quatro missões, e um NEC que consegue ser forte, organizando peregrinações e conferências, por exemplo, sobre a ciência e a fé”, conta. Mas Joana acrescenta que “infelizmente nem todas as faculdades aceitam bem a Missão País, ou os NEC. Sei de algumas que não deixaram que houvesse a divulgação do projeto aos universitários, por sermos um país laico, e por não se identificarem com a Igreja Católica. Nas que não aceitam também nos cabe a nós, universitários católicos, arranjar formas de ultrapassar esses obstáculos”.
Para Miguel Cordovil Pinho há três dimensões muito importantes na Missão País: “a dimensão pessoal, que tem a ver com o que cada missionário recebe, transforma e dá; a dimensão interna, que é o grupo, a comunidade dentro da faculdade; e a missão externa, na terra que nos acolhe e onde nós missionamos – é o trabalho que ali deixamos, as casas que pintamos ou reabilitamos, as pessoas que visitamos, nas escolas ou nos lares”.
“Eu gosto de lhe chamar o p.i.e. - de 'pessoal, interna e externa'. Lendo em inglês faz 'pie', é a tarte, e cada fatia da tarte é importante. Sem uma fatia a tarte fica incompleta. É impossível estar por inteiro na missão externa se eu não estiver com uma boa transformação pessoal. E é impossível ter uma boa transformação pessoal se eu não me apoiar no resto da minha faculdade”, explica.
As missões desenvolvem-se ao longo de uma semana numa localidade, três anos seguidos. “Tentamos sempre ir a sítios onde nunca tenhamos estado antes”, explica Joana Sequeira. E “desde que o projeto arrancou, em 2003, e a contar com 2020, já estivemos ao todo em 162 localidades em todo o país”.
A missão tem sempre a mesma estrutura: oito chefes, quase sempre 50 missionários e um padre assistente. “Começamos sempre com uma oração da manhã, e acabamos com uma oração da noite, e temos missa às sete da tarde”, conta Miguel. Pelo meio desenvolvem várias atividades: estão nas escolas, lares, centros de dia e centros de reabilitação, e andam na rua, no chamado “porta a porta”, em que contactam com as gentes da terra, fazem companhia e “quando é possível falamos um bocadinho de Deus”, explica.
Também dinamizam vigílias, vias sacras, noites de oração ou terços, e no final da semana realizam uma peça de teatro, que é um dos momentos altos da missão. “É escrita por dois membros da equipa nacional da Missão País, e é sempre um momento bonito, uma oferta para quem nos recebe aquela semana. Muitos teatros culminam em arraiais ou em jantares, ou num lanchinho à frente da igreja, ou num auditório. É uma festa!”, garante.
E a hierarquia da Igreja reconhece a importância deste projeto? “Gostamos de acreditar que sim”, diz Joana. Miguel dá o exemplo do cardeal patriarca, D. Manuel Clemente, que tem marcado presença na formação que é dada, todos os meses de novembro, aos chefes de todas as missões – este ano 480 –, e tem falado “da importância do projeto e de viver a fé católica em missão”. E acrescenta: “D. Nuno Brás, atual bispo do Funchal, mas que já foi bispo auxiliar de Lisboa, também quer levar o projeto para a Madeira. Esperemos que um dia isso aconteça!”.
Este ano com lema “Desce depressa! Eu fico contigo” (retirado do Evangelho, do episódio de Zaqueu, o cobrador de impostos), a Missão País arrancou ainda em janeiro e prolonga-se até à primeira semana de março, mas 27 das 60 missões estão a decorrer nesta segunda semana de fevereiro.