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Fernando Santos apoia referendo à eutanásia. "Que sejamos todos a decidir"

11 fev, 2020 - 17:59 • Pedro Mesquita

Para o selecionador nacional de futebol, "a vida é um dom gratuito de Deus". À Renascença, defende que não deve ser o Parlamento "a legislar sobre uma matéria desta magnitude" e sublinha que os deputados não foram mandatados para tal.

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Entrevista a Fernando Santos, selecionador nacional de futebol, sobre eutanásia, do jornalista Pedro Mesquita - 11/02/2020
Clique na imagem para ouvir a entrevista. Foto: Rodrigo Antunes/Lusa

Como encara a decisão dos grupos parlamentares de legislarem sobre a eutanásia?

Num assunto desta magnitude não me parece bem que 230 pessoas, por mais méritos que tenham, legislem por mim e por todos os outros sem uma consulta popular. Esta é uma matéria em que, na realidade, existem muitas diferenças de opinião e, portanto, eu acho que aqueles que não concordam devem ser ouvidos também. Não creio que o Parlamento possa chamar a si a responsabilidade de legislar sobre esta matéria, desta forma. Estamos a falar da vida. A vida é um dom gratuito de Deus e, na minha perspetiva, não temos o direito de sermos nós a decidir sobre ela.

Eu penso que estamos a correr o risco de caminhar para um 'eu' muito totalitário, em que os outros valem pouco. Se cada um de nós, agora, pensar que pode decidir tudo sobre tudo e sobre todos, sem nunca pensar nos outros, acho que é um caminho muito perigoso que a sociedade está a seguir. Acho que, a partir daqui, qualquer coisa pode acontecer em função de ‘eu próprio’. Portanto, os outros deixam de contar.

Porque é que defende o referendo?

O que eu defendo é que não se devia alterar a lei, sinceramente. Agora, respeitando os outros, nada como abrir um debate para que as pessoas possam, cada uma, argumentar à sua maneira. Isso é o elementar porque, para mim, o essencial é que a vida é um dom, é um dom gratuito de Deus e nós não temos o direito de decidir sobre ela. Mas isso é o que eu penso...

Já que os deputados se propõem a decidir sobre ela, então que toda a população seja chamada a decidir em referendo, é isso?

Claro, é isso mesmo. Se [o Parlamento] se propõe a decidir, então que sejamos todos a decidir. Eu não passei nenhum mandato, e penso que nenhum português. Nem tenho ideia de ter visto em algum dos programas dos partidos este anuncio e, portanto, não acho muito correto decidirem, de repente, sobre uma matéria sobre a qual não tinham anunciado o que iam fazer. Acho que assim devemos ser todos consultados e então, pronto, faça-se o referendo.

Preocupa-o a possibilidade de uma pessoa aderir a uma eutanásia apenas por não ter apoio suficiente para continuar a viver?

Sim, claro. Se me disserem: "Bem, mas as pessoas sofrem..." Claro que esse é um dos argumentos normais e válidos. Compreendo muito bem. Já passei por essa situação e estou a passar, se calhar, na minha família. Percebo muito bem isso. Eu sei o que é o sofrimento das pessoas e compreendo este argumento muito válido. Mas isso não quer dizer que nós não devamos fazer tudo, individualmente e em sociedade, para que esse sofrimento possa ser atenuado. E há muitas formas de o atenuar, não é só através dos cuidados paliativos ou dos cuidadores...

Enquanto católico acredito num Deus de misericórdia, que quer que as pessoas sejam felizes. Obviamente que o sofrimento não traz felicidade, mas faz parte do nosso caminho.

E acha que, no fundo, o Estado se pode estar a demitir das suas funções e a preparar-se para tomar uma decisão facilitista?

Se quisermos radicalizar, obviamente que teríamos de apontar por aí. É legitimo dizer que o Estado se está a demitir das suas funções, na realidade de valer aos seus cidadãos em todos os momentos da sua vida. Acho que ao Estado - e às famílias - compete o apoio e a solidariedade para com aqueles que, em alguns momentos da sua vida, psicologicamente e fisicamente, possam na dor equacionar essa situação.

Compete-nos a nós dar a felicidade para que não tomem nunca uma decisão desse tipo.
Comentários
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  • Maria Ascensao gafan
    13 fev, 2020 Gafanha do Carmo 22:13
    Cada pessoa tem a sua opinião ! Eu tenho a minha. Eu digo : sim a vida ! Só Deus tem o poder de nos tirar a vida , e é Ele o autor absoluto da vida . Que os nossos deputados tenham respeito por quem os elegeu .porque na altura dos votos nenhum português votou neles para fazerem leis para matar!!!
  • João Lopes
    12 fev, 2020 20:40
    Quem não defende a vida em todas as circunstâncias não é um ser humano digno de viver numa sociedade tolerante e humanista.
  • Rui Lopes
    11 fev, 2020 braga 22:44
    O engenheiro do penta que se dedique à bola. Elegemos deputados para quê? Alguém obriga alguém a ser eutanasiado? Deixem-se de tretas.
  • Augusto
    11 fev, 2020 Lisboa 20:10
    Sr. Fernando Santos, tal como eu não tenho autoridade para lhe dizer quais os jogadores que devem fazer parte da seleção Nacional, tambem não o autorizo, a decidir por mim, o que quero fazer no final da minha vida. Educadamente lhe digo, trate do futebol ,
  • Filipe
    11 fev, 2020 évora 18:37
    Sim , a eutanásia faz lembrar os comboios de judeus na entrada dos campos concentração nazis , estes já tinham consentido . Sendo no século XXI vai ser meio caminho andado para o aumento da negligência médica , o desinteresse médico pelo doente e a poupança do Estado no doente , é um conjunto de factores que só aproveita o lucro do Estado e das funerárias em detrimento da evolução da medicina . Imagine-se agora na epidemia do novo vírus se fosse em Portugal tudo a dar papéis aos doentes para assinar ....

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