01 fev, 2020
Não há dúvida de que o Presidente Trump tem trazido para a política inovações surpreendentes. A mais recente terá sido o plano para alcançar a paz entre israelitas e palestinianos.
A novidade está em que o dito plano favorece completa e descaradamente uma das partes: Israel. Trump apresentou o seu plano – que classificou de “acordo do século” – em Washington, ladeado por Netanyahu, que não será muito mais tempo primeiro-ministro de Israel, pois terá de responder em tribunal a três acusações de corrupção.
A outra parte da questão, os palestinianos, não foram sequer previamente sondados. Um método novo para mediar conflitos internacionais...
Conhecido o dito plano, a rejeição dos palestinianos foi imediata e total. E não só deles. A Jordânia e Turquia, por exemplo, posicionaram-se radicalmente contra.
Mas não prevê Trump um Estado palestiniano? Prevê, mas não onde a maioria dos palestinianos hoje está – seriam colocados mais longe, em terreno desértico junto ao Egito, por exemplo.
A maior parte da Cisjordânia ficaria para Israel, incluindo o vale do Jordão. Os colonatos judaicos nessa zona passariam a fazer parte de Israel.
Mas o plano tem condições: os palestinianos teriam que desmantelar o Hamas, que domina em Gaza; o futuro Estado palestiniano não teria forças armadas; seria recusado o “direito de regresso” a palestinianos expulsos de zonas entretanto ocupadas por Israel; dezenas de milhares de israelitas árabes poderiam ser destituídos da nacionalidade israelita, etc.
Quanto a Jerusalém, Trump reafirma que é e será a capital “indivisível” de Israel. O futuro Estado palestiniano poderia eventualmente localizar a sua capital a norte de Jerusalém. E receberia dinheiro dos EUA para fomentar a economia e promover o emprego.
Se este “acordo do século” foi tomado a sério por alguém, aconselha-se a essa pessoa uma consulta num psiquiatra. O governo português “tomou nota do plano de paz divulgado pela administração norte-americana, que constitui uma oportunidade para o relançamento das negociações com vista à resolução do conflito israelo-palestiniano”. Como é possível?