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Hora da verdade

​Francisco Louçã. Candidatura presidencial de Ana Gomes seria “oportunismo"

30 jan, 2020 - 00:24 • Eunice Lourenço (Renascença) e Helena Pereira (Público)

Francisco Louçã acusa o PS de dividir a esquerda e diz que o Governo está paralisado devido à tensão entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças. E dá já Centeno como de saída do Governo para o Banco de Portugal.

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Francisco Louçã. “É impossível que Teixeira dos Santos continue à frente do EuroBic”
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Francisco Louçã recusa, para já, uma candidatura presidencial de Ana Gomes e até diz que seria oportunismo ligar a sua candidatura ao combate à corrupção e ao caso Luanda Leaks.

Em entrevista à Renascença e ao “Público”, o antigo dirigente do Bloco de Esquerda elogia Marisa Matias como uma eventual recandidata, considerando que tem mais capacidade de unir e de mostrar caminhos à esquerda.

Se Ana Gomes for candidata às presidenciais, seria uma boa candidata para unir a esquerda?
Ana Gomes tem denunciado desde há muito tempo alguns crimes financeiros. Tenho muito apreço por isso. Ainda estamos a um ano das eleições presidenciais. A conexão entre uma coisa e outra seria oportunismo de circunstância e deve ser evitado. Percebo que aqui há um problema especial para o PS. Sendo um segredo de polichinelo que o PS assentaria com a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, isso [eventual candidatura de Ana Gomes] cria um incómodo em alguns setores do PS. Ela disse que não seria candidata, sugeriu até um candidato, Sampaio da Nóvoa.

Se fosse candidata, poderia apoiá-la?
É um cenário que não existe. Não sei o que o BE definirá, mas no campo político do BE há obviamente candidaturas muito fortes. Marisa Matias foi a terceira candidata mais votada, a mulher mais votada até agora. É uma figura extraordinária na capacidade de juntar, de representar desde os cuidadores informais à luta contra a precariedade.

Quando olhamos para o futuro da política portuguesa, esta espécie de indefinição que foi provocada pelo PS ao ter acabado com a geringonça convidará a que haja respostas novas, capacidade de mostrar os caminhos que a esquerda deve seguir no futuro para se constituir como uma alternativa para o dia-a-dia.

O que está a dizer é que, com o fim da geringonça, a última coisa que deveria acontecer nas presidenciais seria uma união das esquerdas?
Uma união das esquerdas seria interessantíssimo, mas o PS divide, impediu a continuação da geringonça, não será um agente de união, é um agente de divisão. Há uma desilusão muito grande de todas as pessoas nos vários polos da esquerda sobre esta corrida para a maioria absoluta e uma espécie de rancor que o PS tem demonstrado depois disso por não a ter obtido e que condiciona, afunila muito o leque da possibilidade de discussões.

Aumentou a tensão à esquerda.
O objetivo foi aumentar essa tensão.

Em relação ao Orçamento do Estado (OE), o PS deu sinais de querer agradar à esquerda com alterações aos “vistos gold”, “eldorado” fiscal. São sinais suficientes ou ainda não chega?
O problema do Governo neste OE - não só por não o ter querido negociar com os antigos parceiros - é estar hoje mais dominado pela tensão interna entre S. Bento e o Terreiro do Paço sobre questões muito decisivas, o que paralisa a sua capacidade de negociar. Se um [António Costa] quer vender o Novo Banco, o preço que isso implica para o ministro das Finanças é o fim do superavit com o qual Mário Centeno, ao despedir-se do Governo no próximo Verão, quer consagrar o seu período.

Dá por assente que Centeno se despede do Governo?
Absolutamente.

E será um bom governador do Banco de Portugal (BdP)?
Isso depende do que ele cumprir no BdP. Logo veremos.

Tem perfil?
Sim. Tem perfil e capacidade e parece ter vontade. Em todo o caso, esta tensão [entre Costa e Centeno] parece estar a paralisar a capacidade de negociação do OE. A decisão de ter um superavit, tomada por efeitos publicitários europeus, leva a decisões muitos absurdas como adiar um pequenino aumento das pensões mais baixas para agosto, não aceitar a redução do IVA da eletricidade.

O Governo tem dado alguns sinais estranhos. Para surpresa, fez propostas diferentes através do grupo parlamentar do PS do que aquilo que tinha acordado em matérias que estavam definidas e bem delimitadas com os partidos da esquerda. Se isso representa uma mera encenação ou uma tentativa de recuar sobre estes acordos.

Pode dar um exemplo.
As bolsas de estudo para os estudantes no ensino superior. O caso mais preocupante será o adiamento para agosto da subida de 10 euros das pensões que não foi ponto acordado com nenhum dos partidos de esquerda que negociaram com o Governo.

Como vê o fato de o Governo ir lançar novos concursos para novas PPP [parcerias público-privadas] nos hospitais de Cascais e Loures depois de ter aprovado com o BE uma nova lei de bases da saúde?
Não há surpresa nenhuma. A surpresa é o Governo fazer uma exibição comunicacional do fim de contratos que tinham chegado ao fim sugerindo que eles não iriam continuar quando para o Governo já era muito evidente senão mesmo que já tivesse em processamento a preparação técnica de um novo concurso, o que até pode querer dizer as mesmas empresas.

Não sei se o Governo se quer separar da Fosun em Loures. Já veremos se não serão exatamente as mesmas empresas. Todo este jogo para ganhar durante um dia uma atenção comunicacional que conforta os corações de esquerda para depois lançar um concurso para confortar as carteiras de direita é uma forma de gerir as coisas públicas encantadora na sua imaginação, mas muito pouco condizente com o que deve ser uma coerência na ação pública.

Comentários
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  • João Lopes
    08 set, 2020 11:18
    Os comunistas, bloco de esquerda incluído, tem horror à liberdade pessoal, ainda que andem sempre a gritar pelas "amplas liberdades"...

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