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O dia em que o músico Wim Mertens viajou num "dois cavalos" da Bélgica a Lisboa

29 jan, 2020 - 09:50 • Maria João Costa

A comemorar 40 anos de carreira apresenta coletânea comemorativa e recorda o dia em que conheceu Portugal.

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Corria o ano de 1975, a notícia da Revolução dos Cravos tinha chegado à Bélgica. Wim Mertens era então técnico de som de uma rádio belga. A carreira musical de 40 anos que agora celebra ainda não tinha começado. Wim Mertens e um amigo aproveitaram as férias de verão, para viajar até Lisboa.

Em entrevista à Renascença, o músico e compositor belga recorda: “Ficamos tão impressionados com o que tínhamos ouvido sobre as mudanças em Portugal que dissemos 'Vamos a Lisboa!' e viemos”. Essa viagem, diz a sorrir Wim, Mertens levou “dias” e foi “num carro pequeno”. Esse carro que os trouxe de Bruxelas a Lisboa, era um “Citroën dois cavalos.”

Desde esse primeiro contato com Portugal, até hoje passaram mais de 40 anos e Wim Mertens construiu uma carreira musical feita por mais de 700 temas originais. A sua relação com o nosso país manteve-se constante e próxima. Mertens recorda em particular um concerto no Teatro São Luiz, em Lisboa, e o momento em que esteve em residência em Guimarães durante a Capital Europeia da Cultura. “Portugal e os portugueses sempre estiveram perto da minha atividade musical e tem sido uma experiência maravilhosa ao longo destes anos”, diz.

Wim Mertens repete essa experiência de tocar em Portugal, já esta quarta-feira na Casa da Música, no Porto, e no domingo, 2 de fevereiro no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB). Os concertos acontecem numa altura em que está a lançar a coletânea “Inescapable” que reúne quatro discos, com alguns novos temas, e um livro sobre a carreira deste pianista.

Questionado sobre um balanço de carreira, Wim Mertens usa o seu tom irónico para dizer que “olhar para trás 40 anos, não é uma experiência muito agradável para alguém que está a criar e para alguém que continua a fazer música”. O belga prefere antes dizer: “o que fiz é muito interessante, mas mais interessante é o futuro e ver que novas ligações é que o meu corpo de trabalho pode ainda vir a gerar”.

Instituições musicais estão num processo de “autodestruição”

O compositor que coloca a tónica na palavra “continuar” fala do seu processo criativo. “O importante é eu ser uma pessoa na Europa, na Bélgica, numa determinada localidade. Essa localização deve ser suficiente para ser a fonte ou as fontes da minha própria voz”, explica o músico que se mostra comprometido com o seu tempo. De resto, a condição europeia tem sido um tema recorrente da sua música. Nesta entrevista, explica que em breve irá lançar mais um disco inspirado na Europa, um continente onde diz haver uma decadência e desinvestimento cultural.

“Sabemos que desde há algumas décadas que a autoridade da Europa diminuiu em termos económicos e culturais. Outra questão muito importante, na Europa, são as grandes instituições, como as orquestras sinfónicas. Os governos estão a dar menos dinheiro, temos de ver como essas instituições vão sobreviver ou acabar por morrer” aponta o músico que sempre gostou de trabalhar em diálogo com as grandes orquestras.

No seu entender, estas instituições musicais estão num processo de “autodestruição”. A razão é explicada com o reportório musical que interpretam: “As orquestras infelizmente estão demasiado focadas no reportório antigo dos séculos XVIII ou XIX. Acabaram por não criar uma ligação com os novos compositores e músicos. Isto quer dizer que há elementos de autodestruição nestas instituições.”

Em Lisboa e no Porto, Wim Mertens irá percorrer a sua carreira nos concertos no CCB e na Casa da Música e dar a conhecer “Inescapable” que “apresenta uma seleção de 61 músicas de mais de 700” que compôs. “São cinco horas e 30 minutos de música”, diz Mertens sobre a nova coletânea que deseja que o público, ouça ficando com a “impressão de que é um trabalho único”.

Sobre a caixa de discos que agora lança, Wim Mertens explica que “não foi difícil escolher as obras” a incluir, “mas foi desafiante desenvolver um conceito”. O compositor tem o desejo que “quem ouça possa mover-se de música para música de forma natural”. A rir, Mertens conclui: “Não sei se fui bem-sucedido, isso vão vocês dizer!

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  • Rui S
    29 jan, 2020 Lisboa 14:24
    Lá estarei. Embora seja apelidada de "musica minimalista", tem tudo menos "minimalista". A seguir de perto.

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