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Portugueses em Wuhan "revoltados" com demora do repatriamento

28 jan, 2020 - 11:10 • Beatriz Lopes

Cidadãos nacionais contestam falta de informação e criticam falta de articulação entre os serviços consulares.

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Wuhan, uma cidade fantasma. Português descreve “cenário assustador” no epicentro do coronavírus
Wuhan, uma cidade fantasma. Português descreve “cenário assustador” no epicentro do coronavírus

Quando e como é que Portugal vai retirar os seus cidadãos que se encontram na região de Wuhan? É a pergunta dos portugueses que vivem naquela cidade, onde a pneumonia viral teve origem, fazem todos os dias.

À Renascença, André Vitorino, um português que vive em Guangzhou - a terceira cidade mais populosa da China que ainda não está isolada - garante que tem mantido contato diário com os portugueses que vivem em Wuhan e que o sentimento é de revolta.

"Portugal está a tentar recorrer a parceiros europeus para fazer o repatriamento visto que temos poucos cidadãos [duas dezenas] em Wuhan. No comunicado que recebemos da embaixada fala mesmo numa ‘repartição de custos’ e isto preocupa-nos bastante porque somos portugueses acima de tudo e, antes de haver uma solidariedade europeia, tem de haver uma solidariedade nacional”, afirma.

Wuhan é o local onde começou o surto de coronavírus que até ao momento já fez mais de 100 mortos, todos na China.

Nesta entrevista, André Vitorino diz que “a cidade de Wuhan está de quarentena e nunca se viu nada assim: Estarmos à procura de alguém para financiar a viagem? Falei com os meus colegas e eles estão muito preocupados e revoltados porque nem que estivesse cá apenas um português, têm de vir buscar o português", reclama.

O sentimento de injustiça aumenta quando os portugueses em Wuhan olham para outros países como França, Japão e Estados Unidos que já agiram ao anunciar que vão iniciar o processo de repatriamento o mais rápido possível.

André Vitorino lamenta que "Portugal não tenha peso nenhum" e que precise de "esperar por outros países para encher um avião".

De acordo com o testemunho deste português, os cidadãos nacionais criticam ainda que a informação das autoridades chinesas sobre a evolução do coronavírus chegue muito antes do que as informações partilhadas pela embaixada portuguesa.

"A comunicação não está a chegar rapidamente. Temos de estar constantemente a fazer uma tradução de mandarim para português para tentarmos perceber como está o caso”, queixa-se.

“Não faz sentido até porque para além da embaixada em Pequim temos também dois consulados, um em Shangai e outro em Cantão. Acho que deviam articular-se, devia haver um apoio aos portugueses e partilhar informações como, por exemplo, saber em que altura é que os supermercados estão mais abastecidos e se têm máscaras disponíveis. Não há esse apoio, nós é que recolhemos toda a informação e partilhamos entre portugueses", garante.

À Renascença, André Vitorino garante ainda que todos os portugueses em Wuhan estão bem, tal como já tinha adiantado a Direção-Geral da Saúde. No entanto, lamenta que diariamente a “frustração” aumente pela dificuldade numa simples ida ao supermercado.

"Neste momento nenhum português está infetado, mas se vier a ser, tudo vai ser mais complicado. E há agora outros problemas diários: há falta de mantimentos e também de água. Sair de casa também se torna complicado porque começam a faltar máscaras. As máscaras têm uma duração muito curta e nós usamos um sistema de compra via online e depois entregam em casa, só que neste momento nem essas empresas - que têm um grande stock de máscaras- conseguem entrar em Wuhan. Até noutras cidades está a haver problemas de entrega porque tudo isto paralisou para tentar controlar o contágio", conclui.

O Governo português anunciou na segunda-feira que recebeu o pedido de 14 portugueses para serem retirados de Wuhan e que estão a estudar a melhor forma de realizar essa operação.

A China elevou para 106 mortos e mais de 4.000 infetados o balanço do novo coronavírus detetado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).

As autoridades de Pequim confirmaram a primeira morte na capital chinesa de uma pessoa infetada pelo novo coronavírus (2019-nCoV), um homem de 50 anos que esteve na cidade de Wuhan, em 8 de janeiro.

Um primeiro caso confirmado de contaminação com este vírus foi registado na Alemanha esta segunda-feira, o segundo país afetado da Europa, depois de França.

Além do território continental da China, também foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Alemanha, Austrália e Canadá.

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