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Alerta aos profissionais da comunicação Social. “O bem faz sempre bem e o mal faz sempre mal”

24 jan, 2020 - 16:05 • Olímpia Mairos

Na mensagem para o 54.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco alerta para narrativas “falsas” e “devastadoras”.

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O Secretariado Nacional das Comunicações Sociais apresentou, esta sexta-feira, em Bragança, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais com o tema “‘Para que possas contar e fixar na memória’ (Ex 10, 2). A vida faz-se história”.

A iniciativa inseriu-se no tradicional pequeno almoço que o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, promove anualmente com os jornalistas da região, para “estreitar os laços e promover a cultura do encontro” entre os profissionais da comunicação social da região, no dia em que a Igreja celebra São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas.

Referindo a riqueza e profundidade da mensagem de Francisco para toda a sociedade, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. João Lavrador, afirmou que “o Papa desafia-nos a todos nós. Ele quer fazer de toda a humanidade, de todo o ser humano, um comunicador”.

É por isso que o Papa “convida toda a pessoa a estabelecer relação com o outro, no sentido de uma comunicação positiva, a que chama a narrativa de histórias boas”, sublinhou o prelado, acrescentando, no entanto, que “aqueles que têm por tarefa serem comunicadores dentro dos órgãos de comunicação social têm aqui uma responsabilidade acrescida”.

“O Papa não deixa de dizer que também há histórias más, que também têm que ser atendidas, porque fazem parte daquilo que é a narrativa do ser humano. No entanto, não deve ser a história má a construir o futuro. Essas devem ser equacionadas, devem ser expurgadas e a história boa é que deve realmente ser a perspetiva de futuro”, observa o bispo dos Açores.

Também o bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, incentivou os profissionais da Comunicação Social a contarem e suscitarem mais "histórias de bem", defendendo que é uma maneira de contagiar a sociedade pela positiva.

“Conhecendo histórias de bem, de verdade, de justiça, de harmonia e poder contá-las aos outros é uma maneira de contagiar, para que esse bem possa ser partilhado e suscite nas pessoas a vontade de fazer o bem”, observou o prelado.

O bispo transmontano notou que, às vezes, há uma vontade de desistir “diante das dificuldades” e “complicações da vida” e realçou que a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais “suscita o fazer memória. E a memória é o horizonte da esperança, é o horizonte da história”.

D. José Cordeiro observou ainda que devemos ser “artesãos da paz e do bem” e que “há muitas maneiras de o fazer”.

“Para os profissionais da comunicação social há este dever acrescido, porque, às vezes, o bem passa ao lado, pela pressão da própria orgânica dos órgãos da comunicação social. Mas era importante suscitar as histórias de bem que já têm acontecido. O bem faz sempre bem. E o bem pode fazer ainda mais bem e melhor. O contrário também é verdade, o mal faz sempre mal”, reforçou o bispo de Bragança-Miranda.

Citando Sophia de Mello Breyner e o poema “Cantata de Paz”, D. José Cordeiro afirmou que “o que vimos, vemos e lemos não podemos ignorar”, sublinhando, mais uma vez, que “a realidade, na sua narrativa, também depende, muitas vezes, dos olhos de quem a vê”.

“Mesmo apresentando casos de não bem ou até de mal”, é fundamental “fazer suscitar noutros a sua responsabilidade ou corresponsabilidade na construção do bem maior”, concluiu o prelado.

A mensagem do Papa para este dia, habitualmente apresentada aos portugueses em Lisboa, foi este ano, pela primeira vez, descentralizada para Bragança, aproveitando o encontro anual do bispo transmontano com a Comunicação Social.

Celebrações da data vão percorrer o país

A diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, Isabel Figueiredo, referiu-se à estreia e disse que “a ideia é, a partir de agora, celebrar este dia, apresentar esta mensagem em dioceses diferentes, percorrendo todo o país”. No próximo ano, a diocese escolhida será a do Algarve.

Já em relação à mensagem do Papa, Isabel Figueiredo referiu que “tem sempre esta particularidade” e “o maior desafio é obrigar-nos a pensar, nós próprios, com a nossa cabeça, com o nosso coração”.

“As mensagens são sempre muito dirigidas a quem as lê e, portanto, o Papa é sempre muito assertivo, espanta-se sempre a sua capacidade de dizer as coisas com um à vontade total, chama os nomes certos às coisas certas”, sublinhou.

Segundo a diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, a mensagem do Papa Francisco “coloca-nos diante de uma situação que é muito real, que é termos a consciência de que o jornalismo, os comunicadores têm a capacidade de dizer o bem e têm a capacidade de dizer o mal, têm a capacidade de trabalhar para o bem e têm a capacidade de alimentar o mal”.

“E, portanto, ele [o Papa] pergunta-nos ‘vocês querem contar estas histórias? É isto que vale a pena? Não valerá a pena uma outra coisa? Não valerá a pena outro tipo de narrativa?’”, acrescentou.

Referindo-se ainda à mensagem de Francisco para este dia, Isabel Figueiredo evidenciou ainda que ‘perante o mal que nós, infelizmente, temos que denunciar todos os dias, nunca ficar aí, porque há um bem, há um bem maior” pelo qual temos que ‘trabalhar’”.

Questionada sobre se a função do jornalista também passa por denunciar o que está mal ou o mal, a diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais afirmou que importa “denunciar de uma forma construtiva”.

“Aí é que está a questão. Porque denunciar por denunciar, todos o conseguimos fazer mais ou menos. Fazê-lo de uma forma construtiva, tendo consciência do impacto que fazemos na vida dos outros, esse é que é o grande desafio. Denunciar, sim, mas de forma construtiva, tendo sempre como objetivo algo maior que está mais ao fundo da estrada”, conclui Isabel Figueiredo.

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