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"Trabalhar no Interior"? "Há empresas a gastar 100 mil euros/ano em portagens"

24 jan, 2020 - 13:10 • Liliana Monteiro , Marta Grosso (texto)

União dos Sindicatos de Castelo Branco reage ao programa anunciado no Parlamento pela ministra da Coesão, que também anunciou redução nas portagens para breve. Mas sem prazos.

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Até pode haver trabalho, mas com baixos salários ninguém ocupa os lugares, afirma o coordenador da União dos Sindicatos de Castelo Branco, Luís Garra, em reação aos anúncios feitos nesta sexta-feira pela ministra da Coesão.

Ana Abrunhosa disse no Parlamento que o Governo estava a desenvolver o programa "Trabalhar no Interior", que tem como objetivo atrair mais gente para aquela zona do país, através da criação de “redes de apoio aos trabalhadores para garantir acesso mais expedito ao mercado de trabalho”.

Ressalvando que ainda não conhece o plano, o coordenador sindical sublinha que “tem de haver uma cultura do trabalho e dos trabalhadores e de melhor remuneração do trabalho que é prestado” para que tal resulte.

Porque “até pode haver emprego - e às vezes até há - mas depois não há quem os ocupe”.

Luís Garra lembra que o interior é das “regiões com menor rendimento per capita, onde se praticam os mais baixos salários – em último lugar está Bragança, em penúltimo está Guarda, depois está Castelo Branco”.

Ora, “as novas gerações têm todo o direito – até porque são mais qualificadas, mais conhecedoras, mais preparadas – a ter uma vida digna e, portanto, não é com baixos salários que ficam no interior”, destaca o sindicalista.

Luís Garra sublinha ainda que, do lado das empresas, custos que podem chegar aos 100 mil euros/ano em portagens. “Não estamos a falar de uma coisa despiciente”, critica.

“Nós não vamos lá só com rebuçados”

Sobre as portagens, a ministra da Coesão anunciou, na audição parlamentar desta manhã, no âmbito do debate na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2020, que o Governo está a estudar um modelo de desconto de portagens no interior em função da quantidade do número de passagens e uso aos fins de semana.

O coordenador da União dos Sindicatos de Castelo Branco (que integra Plataforma pela Reposição das SCUT na A23 e A25) não vê qualquer novidade no anúncio.

“Aquilo que a senhora ministra anunciou hoje não é mais do que nos disse a nós na reunião que fizemos na passada segunda-feira. O que esperávamos é que hoje tivesse sido mais concreta”, afirma Luís Garra, pedindo clareza ao Governo e que “a senhora ministra da Coesão, o senhor ministro das Infraestruturas e o primeiro-ministro incluído anunciem rapidamente as tais medidas e a sua entrada em vigor”.

“Não vamos lá só com rebuçados”, sublinha o coordenador sindical, lembrando que as portagens representam “um peso muito importante” para as famílias.

“É só termos em consideração que, quem tiver familiares, por exemplo, em Lisboa e se desloque [entre as duas regiões], paga quase tanto de portagens quanto paga de combustível. Isto está a levar a que pessoas que estão a viver em Lisboa e que têm os seus pais no interior reduzam o número de visitas”, alerta.

Por isso, “as medidas que vierem serão um rebuçado que não resolve o problema todo” e a luta pelo fim das portagens irá continuar, “por razões de justiça e de coesão territorial”.

No final do ano, a Plataforma pela Reposição das SCUT na A23 e A25 apresentou uma proposta “ao Governo e aos partidos com assento parlamentar no sentido de haver, já em 2020, uma redução de 50% para os veículos que nos visitam e a abolição total para os residentes. E o compromisso para a abolição total até ao final da legislatura”.

Certo é que os anúncios da ministra da Coesão, nesta sexta-feira, no Parlamento, não tinham valores ou prazos e os incentivos dos municípios do interior às empresas e às famílias ainda estão para ser divulgados.

SCUT é a abreviatura para “Portagens Sem Cobrança aos Utilizadores” ou “Portagens Sem Custos para o Utilizador”. É um modelo de financiamento de autoestradas e vias rápidas introduzido em Portugal em 1997, durante o Governo de António Guterres (PS).

Até 2006, o número de SCUT foi aumentando, mas, entre 2010 e 2016, os contratos começaram a ser revistos com o objetivo de diminuir as rendas pagas aos concessionários – um processo que causou muita polémica e que ainda hoje não está sanado no seio da sociedade civil.

Comentários
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  • Petervlg
    24 jan, 2020 Trofa 14:51
    é a vergonha dos governantes que temos recebem dinheiro a fundo perdido, e ainda temos que pagar

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