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Vida consagrada é “um tesouro para a Igreja e para o mundo”, diz D. António Augusto Azevedo

23 jan, 2020 - 13:38 • Olímpia Mairos

“Consagrados para Evangelizar” é o tema da Semana do Consagrado que se inicia no domingo.

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De 26 de janeiro a 2 de fevereiro, a Igreja Católica celebra a Semana do Consagrado com o tema “Consagrados para evangelizar”.

Em entrevista à Renascença, o presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM), D. António Augusto Azevedo, afirma que “a vida consagrada é um tesouro para a Igreja e para o mundo”.

A Igreja dedica uma semana aos consagrados. Qual a finalidade desta iniciativa?

Serve para darmos graças a Deus por esse grande dom, por esse tesouro da vida da Igreja, que são os consagrados nas suas variadas expressões e serve também para nós refletirmos, nós, Igreja toda, sobre a realidade atual, desafios futuros exatamente da vida dos consagrados

Que lugar ocupa a vida consagrada no seio da Igreja e do mundo?

A vida consagrada na sua grande diversidade, variedade de expressões - são muitas congregações, institutos – é, além de um tesouro na vida da Igreja, um grande sinal para o mundo. E sinal precisamente de formas de viver o evangelho muito inspiradas no original, isto é, no modelo que é o próprio Jesus, estilos muito evangélicos e também estilos que vão ao encontro do mundo e estão muito próximos, são respostas da Igreja e do Espírito de Deus que a guia, respostas aos desafios que, ao longo das várias épocas, foram muito importantes e são também muito importantes hoje e para o futuro. A vida consagrada é um tesouro para a Igreja e para o mundo.

São várias as respostas que a vida consagrada dá em vários setores da sociedade, porque também são diversos os carismas…

É o Espírito Santo que enriqueceu e que guia a Igreja, inspirou muitos homens e mulheres santas ao longo da história que foram fundando tantas ordens religiosas, congregações, institutos, nos mais variados contextos e foram formas de responder ao grande desafio de cada época, que é viver o evangelho, que é testemunhar o evangelho e que é, de facto, vivê-lo com um estilo de vida muito próprio. Creio que é um sinal que continua a ter hoje, naturalmente, muita força.

Um sinal que evangeliza através do ser e do fazer?

Esse é talvez um dos aspetos decisivos, a especificidade da vida consagrada está exatamente em ser capaz de evangelizar pelo testemunho, pela forma de ser, muito mais do que do fazer, embora no campo do fazer há imensas obras que nós devemos a todos os consagrados, mas, sobretudo, pelo estilo. E esse aspeto que é específico, é de todos os tempos, eu creio, e adquire hoje uma validade e uma pertinência maiores. Olhando para um consagrado ou uma consagrada, um cristão ou qualquer homem ou mulher, qualquer cidadão deste tempo deverá encontrar, digamos assim, uma forma de viver, um estilo de vida, um conjunto de valores e de atitudes que nos remetem logo para o que é mais genuíno do evangelho. E essa especificidade pelo testemunho de vida é também para nós um grande desafio.

Homens e mulheres que, muitas vezes, estão em situação de “fronteira” e são aqueles que vão às “periferias” como, de resto, convida o Papa Francisco…

Sim, essa é também uma mais valia da vida consagrada. Presta inspiração do Espírito e presta fidelidade ao Evangelho e à pessoa de Jesus. Estiveram muito mais disponíveis e estão para ir, de facto, ao encontro dessas situações de “fronteira”, sobretudo da realidade dos homens e mulheres de cada tempo e também de hoje, que ninguém vê, que ninguém valoriza, para os quais o Estado, a sociedade ainda não tem resposta e que, muitas vezes, passa indiferente. Num mundo indiferente, que tende a desumanizar-se e a descartar alguns, as várias expressões da vida consagrada têm tido essa capacidade. Basta recordar ao longo da história tantas instituições ligadas ao ensino, à saúde, na resposta a tantos dramas sociais, etc., e nos últimos tempos, também o próprio estilo de missão, uma missão nas zonas de fronteira, onde ninguém chegou. É uma história muito bonita, um capítulo muito bonito que a vida consagrada escreveu na história da Igreja, com a marca da santidade e, às vezes, também com a marca do martírio.

Que mensagem aos consagrados de hoje?

O mundo, hoje, é um pouco mais complexo e os desafios são muitos e há menos meios, até humanos. E quando há uma questão vocacional que é preciso refletir, é muito importante cultivar a alegria, cultivar a fidelidade ao Evangelho, ter consciência de que esse trabalho que cada um faz e o contributo que cada instituição dá é muito importante. E na Igreja sempre foi assim. E imagine o que é que será, quando cada uma das realidades cumprir a sua missão! Também temos de ter esse discernimento de perceber que o Espírito também vai gerando, vai inspirando novas formas dessa consagração. E hoje há, por exemplo, institutos de vida secular que são também uma resposta muito nova.

Nos últimos tempos o tema do celibato sacerdotal voltou à ordem do dia. Há quem defenda que deve manter-se, mas há quem proponha o seu fim e a ordenação de homens casados. Como é que o D. António vê esta matéria?

O celibato na Igreja do ocidente tem sido um aspeto importante, inerente ao ministério sacerdotal. Eu creio que isso tem constituído um valor e, como valor, acho que essa relação se deve manter e até valorizar, porque é também algo de profético para o mundo. Significa também a capacidade da dedicação de uma vida toda entregue ao serviço do reino de Deus. Evidentemente que a Igreja, sempre guiada pelo Espírito e pela sua capacidade de discernir, poderá sempre entender que pode haver outras alternativas. Não me parece que isso vá acontecer para já. Também não me parece que o celibato como tal deixe de existir, não me parece de todo, porém, admito que a Igreja, em determinadas circunstâncias, de forma muito ponderada e prudente, possa abrir o ministério sacerdotal a homens casados. Creio que essa porta não está fechada, mas nunca deixando de valorizar esta ligação entre o ministério e o celibato.

Uma porta que poderá abrir-se nos tempos mais próximos?

A Igreja, nestas coisas importantes, vai fazendo o seu caminho. Todos, bispos e Papa e leigos. E eu creio que será um processo natural, sobretudo com esta consciência. Desde o início, há dois mil anos, sempre foi assim. E os ministérios, os que são necessários, e também a sua própria configuração, vão sendo as respostas que a Igreja encontra para os desafios de cada tempo. Portanto, creio que o futuro também ajudará a Igreja a fazer esta reflexão - que ministérios, que forma de configuração do ministério, concretamente do ministério dos presbíteros para este tempo. E creio que essa ligação forte entre o presbiterado e celibato existirá, mas, repito, admito que possa abrir essa porta de forma lenta, preparada, prudente.

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