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Como atrair jovens para a docência? Com estabilidade, diz Mário Nogueira

22 jan, 2020 - 11:24 • Miguel Coelho , Marta Grosso (texto)

Perto de 12 mil professores abandonaram a profissão e, até 2023, 18 mil irão atingir a idade da aposentação. O dirigente da Fenprof esteve nas Três da Manhã antes de se encontrar com o ministro da Educação.

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A classe dos professores está envelhecida e cada vez com menos gente. É, por isso, urgente atrair jovens para a docência, mas para tal é preciso que o Governo tome medidas que fomentem a estabilidade, defende Mário Nogueira.

“Eu acho que só há uma forma, que é criar estabilidade para os jovens poderem saber e organizar-se do ponto de vista da sua vida. Ou seja, o Ministério da Educação tem de optar mesmo por abrir lugares de quadro que efetivem os professores, porque não se pode estar até quase aos 50 anos contratado a prazo e aos saltos no país”, afirma o secretário-geral da Fenprof (Federação Nacional dos Professores).

“Tem de criar condições de estabilidade para as pessoas se poderem organizar – porque têm família, porque têm filhos, porque têm a sua vida – e valorizar a carreira”, insiste Mário Nogueira no programa As Três da Manhã, nesta quarta-feira, o mesmo dia em que tem encontro marcado à tarde com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

Mas o que é valorizar a carreira? O histórico sindicalista garante que não se trata de aumentos salariais. “Não defendemos sequer que tenha de haver uma carreira com melhores salários. Não é isso, é respeitar o que está na lei”, esclarece.

“O que está na lei é uma carreira de 34 anos para chegar ao topo – é das mais longas da União Europeia – e permitir que as pessoas, ao longo do tempo, com a devida avaliação, com o tempo de serviço, com a formação contínua, com tudo aquilo que são os requisitos que a lei estabelece, possam ter uma progressão e não fiquem bloqueados em escalão a meio”, concretiza.

Falta de professores, envelhecimento da classe, violência nas escolas e amianto são algumas das preocupações que os sindicatos levam, esta tarde, ao Ministério da Educação.

Os sindicatos queriam ter sido ouvidos antes da aprovação, na generalidade, do Orçamento do Estado e antes da ida do ministro da Educação ao Parlamento para defender a proposta na especialidade, mas tal não aconteceu.

Ainda assim, no encontro desta quarta-feira, as organizações sindicais prometem falar de todas as questões que preocupam o setor – entre elas, a desvalorização de que os professores têm sido alvo e que resulta, na opinião do secretário-geral da Fenprof, na atual situação, com alunos (entre os quais, crianças com necessidades educativas especiais) ainda sem aulas por falta de docentes.

Como exemplo, Mário Nogueira aponta, na Renascença, o facto de os professores não ganharem o suficiente para trabalharem em Lisboa ou no Algarve.

“Um professor hoje, até aos 16 anos de serviço, mantém-se no primeiro escalão da carreira. Ora, o primeiro escalão da carreira quer dizer que tem um salário de mil euros líquido e, portanto, não consegue vir viver para Lisboa nem para o Algarve”, conclui.

“Isto fez com que cerca de 12 mil professores profissionalizados tivessem abandonado a profissão. E nos últimos anos há instituições do ensino superior que não têm candidatos”, acrescenta, lembrando a falta de professores nas disciplinas de informática, geografia, inglês, entre outras.

O cenário piora quando se olha para os números do último relatório do Conselho Nacional de Educação, que prevê que “cerca de 18 mil professores atinjam a idade da aposentação até 2023; cerca de 60% dos professores durante esta década”.

“Nós estamos em 2020” sublinha o sindicalista.

O problema do precedente

Na semana passada, o Governo anunciou que os professores de línguas estrangeiras vão poder lecionar Português no 3.º Ciclo e no Secundário e que as aulas de Geografia poderão ser dadas por docentes de História, no caso das turmas ainda sem professor.

O secretário-geral da Fenprof não vê problema nisto – até porque “uma parte daquilo que o Ministério veio dizer que as escolas deveriam fazer, as escolas já faziam”.

“Muitos professores de Francês são professores de Francês e Português e, nestes casos, embora este colegas estivessem essencialmente com Francês ou Inglês, eles têm formação para Português e, portanto, as escolas já lhes atribuíam turmas de Português”, afirma na Renascença.

“O problema”, diz Mário Nogueira, “é que se abre aqui um precedente, porque há outras áreas deficitárias e, por este princípio, qualquer dia vamos ter à frente das turmas pessoas não qualificadas, sem formação – o que, aliás, já acontece em países como a Suécia”.

O sindicalista dá como exemplo “o caso da informática, em que professores, porque foram a ações de formação – normalmente na ótica do utilizador e não do docente – poderem lecionar uma disciplina numa área em que os jovens dão cartas”.

No que toca ao tempo de serviço dos professores, Mário Nogueira lembra, no programa As Três da Manhã, que “há uma falta do tempo de serviço, que não foi contabilizado pelo Governo para carreira e que os professores cumpriram”.

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