21 jan, 2020 • Miguel Coelho , Filipe d'Avillez
Fernando Medina aconselha cautela na forma como se aborda a questão de Isabel dos Santos e os Luanda Leaks, que indicam que a empresária desviou dezenas de milhões de euros de uma conta no banco Eurobic para um banco no Dubai.
O comentador da Renascença recorda que já houve outros casos parecidos que acabaram por não dar em nada. “Os mecanismos internacionais de controlo dessas transferências são muito mais apertados e muito mais rigorosos, e por isso não se percebe de todo como é que pode ter havido um movimento daquela natureza, sem controlo, sem registo, sem denúncia e sem intervenção.”
“Era muito importante saber se aconteceu ou não aconteceu o que é descrito, e convém dar algum tempo para respirar, porque já tivemos outros casos – vulgo Panamá Papers –
em que muito do que apareceu, ou algumas das coisas que apareceram, depois não se veio a comprovar que tinha acontecido naqueles termos, ou melhor, havia outro lado da história”, diz.
Reconhecendo o papel importante da justiça angolana em todo este processo, Fernando Medina diz que é preciso “manter a bitola”, recordando que alguns dos que a criticaram quando foi o processo que envolvia Manuel Vicente são os mesmos que agora o aplaudem.
Os dois comentadores sublinham a importância destas revelações para a economia portuguesa, tendo em conta o papel desempenhado por Isabel dos Santos em várias empresas nacionais.
João Taborda da Gama diz que “é preciso perceber o que é que o Estado Angolano, de acordo com os seus procedimentos internos e a sua posição de política económica, quer fazer com as participações que detém, ou que passará a deter na Galp, na Nós e na Efacec. Essa questão levanta questões importantes. Provavelmente é uma oportunidade para acionistas portugueses consolidarem a sua posição.”
O mesmo comentador aponta ainda para o paradoxo de que as empresas portuguesas em que Isabel dos Santos tem participações tiveram bons desempenhos. “Veja-se o BPI – de que já não é, mas que atravessou a crise melhor que alguns bancos – a Nós, melhor que a PT e a própria Efacec, e a Galp. Como acionista as coisas correram bem.”