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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O czar não larga o poder

20 jan, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Putin lançou um processo de alterações na orgânica do poder político. Não se sabe, ainda, qual será o futuro lugar de Putin, mas ninguém duvida de que ele continuará a ser o “czar” da Rússia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, termina o seu atual mandato em 2024. Na passada quarta-feira anunciou no parlamento russo, a “duma”, grandes alterações constitucionais quanto aos órgãos do poder político, mas sem dar pormenores. O governo, incluindo o primeiro-ministro Medvedev, demitiu-se para deixar a Putin o terreno livre – e logo foi nomeado um novo primeiro-ministro, de perfil tecnocrático.

Tudo isto, e o que a seguir vier, será devidamente aprovado na “duma”, onde os partidários de Putin têm larga maioria. Está prometido um referendo sobre as reformas, mas, como o poder político controla os “media” na Rússia, será fácil obter um resultado favorável. Não se sabe, ainda, qual será o futuro lugar de Putin, mas ninguém duvida de que ele continuará a ser o “czar” da Rússia, posição que ocupa há 24 anos.

Não fará como Xi Jinping, que pura e simplesmente eliminou quaisquer limites temporais ao seu mandato presidencial na China. Putin poderá vir a ocupar até um cargo aparentemente não muito poderoso, como o de presidente do Conselho de Estado.

Nos regimes autoritários os verdadeiros líderes não precisam de ter cargos formalmente de topo. Salazar mandou em Portugal desde pouco tempo depois de assumir a pasta de ministro das Finanças, em 1928, até 40 anos depois, quando teve de ser substituído por incapacidade física – mas teoricamente dependeu sempre de sucessivos presidentes da República. E Deng Xiao Ping, que mudou a política económica da China, lançando o país para um crescimento económico nunca antes visto, tinha um cargo politicamente irrelevante. Outro caso é o de Aung San Suu Kyi, líder efetiva do governo da Birmânia, mas que não faz parte desse governo.

Existe na Rússia uma ténue fachada democrática, mas não há liberdade política nem de expressão. Não é um Estado de direito. Putin explorou com habilidade o sentimento de frustração dos russos por o seu país ter deixado de ser uma superpotência. E alimenta a hostilidade às democracias liberais em geral e em particular à Europa comunitária.

Aí tem uma aliado improvável: o presidente dos EUA. Não foi por acaso que Putin afirmou que o processo de destituição de Trump se baseia em acusações “totalmente fabricadas”.

Comentários
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  • J M
    20 jan, 2020 Seixal 18:12
    Aprendeu com o Alberto João Jardim o ex presidente do governo regional da Madeira. Também foi eleito democraticamente numa ténue fachada democrática durante 37 anos e ainda apelidava os Continentais de cubanos.