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​Jornadas do Clero do Sul

Padres recebem formação sobre “ecologia integral”

17 jan, 2020 - 21:39 • Rosário Silva

A Renascença conversou com o diretor do ISTÉ, o cónego José Morais Palos, responsável pela organização das jornadas que este ano contam com a presença de mais de uma centena de sacerdotes das dioceses do sul.

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No topo da atualidade, a ecologia integral vai estar em destaque de 20 a 23 de janeiro, na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal. Trata-se de uma iniciativa organizada pela 13.ª vez, pelo Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTÉ).

“Ecologia Integral: O Homem no Centro da Criação” é o tema central das jornadas de formação, que vão contar com o contributo de vários especialistas. Os professores Francisco Ferreira, José Augusto Martins Ramos e Carvalho Rodrigues ou o juiz Pedro Vaz Patto são alguns dos conferencistas.

O cardeal Peter Turkson, que por indicações do Papa Francisco vai participar, em Davos, no Fórum Económico Mundial, não vai poder estar presente nestas jornadas, como estava inicialmente previsto. É substituído pelo subsecretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o padre Nicola Riccardi.

A Renascença conversou com o diretor do ISTÉ, o cónego José Morais Palos, responsável pela organização das jornadas que este ano contam com a presença de mais de uma centena de sacerdotes das dioceses do sul.

Está aí mais uma edição da atualização do clero para as dioceses do sul. Este ano, os sacerdotes são convidados a aprofundar o tema “Ecologia integral: o Homem no centro da criação”. Por que razão foi escolhido o tema e com que preocupações?

Bem, os temas que têm sido selecionados para estas jornadas que realizamos há 13 anos, congregando os sacerdotes das dioceses, primeiro de Évora, Beja e Algarve, e nos últimos anos, também a diocese de Setúbal, são temas diversificados, que procuramos escolher de acordo, também, com a atualidade, com o momento presente. Depois de, no ano passado, refletirmos sobre a antropologia, entendeu-se que, de facto, um dos temas que está aqui inserido, até porque o Papa publicou a “Laudato Si”, é a questão da pessoa humana, por isso selecionámos este título “Ecologia integral: a pessoa humana no centro da criação”, indo de encontro às preocupações do Santo Padre.

Preocupações que são, seguramente, da Igreja, mas que abordagem concreta será feita?

Como diz o Papa no referido documento, a ecologia integral faz-nos tomar consciência de que tudo depende de tudo, e esta ecologia integral procura valorizar cada criatura e dar um sentido humano à ecologia. No fundo, o que queremos refletir, é a responsabilidade da pessoa humana, precisamente, nesta interação, uma vez que o fenómeno da ecologia não tem a ver, apenas, com ambiente, com as alterações climática.

Há aqui uma série de interdependências, nomeadamente a ecologia ambiental, cultural, económica ou social. É sobre todas estas dependências, digamos assim, que queremos refletir, com base, e isto é que também nos identifica a nós, com base nos dados da Revelação. Nós temos princípios orientadores e não nos movimentamos apenas por questões de circunstância, por isto ou por aquilo, por agora estar na moda ou haver uma maior movimentação em torno deste tema. Nós já temos os princípios, mas é preciso redescobrir a revelação.

E com sacerdotes bem formados, também as comunidades ficam a ganhar…

Sem dúvida que essa é uma preocupação de base. Entendemos que a formação contínua dos sacerdotes é uma prioridade. Se há aquela formação inicial, que é exigente e que deve continuar a existir, há, depois, toda uma outra formação contínua, que é fruto e até mesmo exigida pelas circunstâncias em que nós vivemos. Graças a Deus, que os sacerdotes têm entendido isso, por isso aderem em número significativo. Este ano, voltamos a ter mais de cem padres, nestes quatro dias, de 20 a 23 de janeiro, em que nos reunimos em Albufeira.

Relativamente ao programa há vários temas e vários oradores, contudo, há uma substituição de última hora, uma vez que o cardeal Peter Turkson já não virá.

De facto, não vem. Há cerca de oito dias tivemos a noticia de que ele estaria impedido de vir, embora estivesse comprometido connosco há cerca de um ano, mas estas coisas, como sabe, acontecem. De um momento para o outro, teve que ir, antecipadamente, para a conferência de Davos, o Fórum Económico Mundial. Segundo a informação que nos foi transmitida, o Papa Francisco pediu-lhe para ir antes, para uma celebração que acontece precisamente no dia 20, dia do inicio das nossas jornadas e confiou-lhe, inclusivamente, um texto para proferir logo na abertura. Essa é a razão pela qual o senhor cardeal não vai estar connosco.

E vai estar alguém em sua substituição?

Sim, o próprio organismo da Santa Sé, de que ele faz parte, o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, indicou-nos um dos seus secretários, solucionando, assim, o problema.

E quem é?

É o subsecretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o padre Nicola Riccardi. Mas nestes quatro dias, vamos ter muitos outros conferencistas. Temos, por exemplo, o professor Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, e mantemos algumas colaborações vindas de Roma, como é o caso, do monsenhor D. Rino Fisichella, o presidente do Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, no Vaticano.

Destaco, também, a presença de Martín Carbajo Núñez, da Pontifícia Universidade Antoniana, que já tem colaborado connosco noutras ocasiões, sendo um especialista desta área, até como franciscano que é. Já agora, salientar, ainda a presença do professor Carvalho Rodrigues, conhecido como o pai do satélite português, sendo que a sua participação se traduz num contributo da engenharia física e espacial, nesta formação. Do ponto de vista bíblico, para nos fazer uma leitura dos relatos da criação, temos o professor José Augusto Martins Ramos e, para fechar as jornadas, o contributo presidente da Comissão nacional Justiça e Paz, Pedro Vaz Patto.

Vários conferencistas para vários temas, todos eles, certamente, com um objetivo comum?

O ponto central é sempre a relação do homem com a obra da criação. Nós os cristãos, temos fontes, temos a Revelação, não nos movemos apenas por uma questão natural, circunstancial. Não, nós temos fontes da Revelação, reforço, e queremos redescobri-las. Temos história e temos, sobretudo, uma antropologia e uma visão humanística desta realidade que queremos sublinhar.

Vamos ter “padres mais ecológicos”, se me é permitida a expressão, ou pelo menos, sacerdotes ainda mais esclarecidos e sensibilizados para uma questão tão fundamental para a sobrevivência do próprio homem e da nossa “casa comum”?

Quando nós revisitamos estes temas da revelação e particularmente da Bíblia, da palavra que Deus nos comunica, temos ali, praticamente, os dados lançados. Claro que o esforço que tem de ser feito, é sempre o de nos situarmos no tempo presente. Mas, como disse, temos uma historia do pensamento da Igreja, a diversos níveis e áreas, e quando revisitamos estes temas, eles estão lá, e o que queremos é recuperá-los e atualizá-los nas circunstancias acuais. É obvio que os padres todos beneficiarão desta participação nestes encontros, e este é um encontro privilegiado, pois tem dado mostras, nestes últimos anos, que os sacerdotes o acolhem e participam nele ativamente.

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