Emissão Renascença | Ouvir Online
João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
A+ / A-

​Pele de cordeiro

17 jan, 2020 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Desde há algum tempo, ou seja, desde a anterior Comissão Europeia, que este órgão comunitário actua fundamentalmente tendo em vista propagandear as excelências da União Europeia de modo a facilitar e reforçar a transferência de competências nacionais para órgãos comunitários.

Consciente que a forma desastrada como as instituições comunitárias lidaram com a crise e com o problema dos refugiados alienou grande parte dos eleitorados dos estados membros do apoio ao chamado projecto europeu, a Comissão quer agora aparecer como a grande defensora do bem-estar dos trabalhadores em todo o espaço europeu. Claro que o pior do projecto europeu, ou seja, as instituições da moeda única, continuam exactamente tão iníquas e obtusas como têm sido até aqui. Mas – pensa a Comissão - uma cortina de fumo oportunamente lançada a favor do “social” pode fazer esconder os problemas da Europa, em particular os da zona euro.

Desta postura demagógica temos o mais recente exemplo no anúncio de que se vai iniciar um processo negocial liderado pela Comissão para intervir na definição dos salários mínimos nacionais.

Nada nos tratados autoriza a Comissão a fazê-lo e, bem pelo contrário, o artigo 153.º n.º 5 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia exclui expressamente as remunerações do âmbito da acção comunitária.

Mas como é necessário que, de um momento para o outro a Comissão – que sempre alertou para os riscos do que chama salários elevados - apareça como a defensora do “social” para fazer esquecer o que tem sido o funcionamento das instituições económicas e monetárias, os limites impostos pelos tratados são rapidamente ignorados.

Não é a primeira vez nem é de agora que o lobo veste a pele de cordeiro.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.