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Cientistas criam "cimento vivo" que consegue reparar as próprias fissuras

16 jan, 2020 - 11:25 • Redação com Lusa

“Parece mesmo um material de Frankenstein”, admite Wil Srubar, que liderou a investigação. "Se um destes tijolos for cortado ao meio, cada uma das metades consegue crescer e criar dois novos blocos", explica.

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Um grupo de cientistas nos Estados Unidos criou um "cimento vivo" juntando areia e bactérias num material de construção capaz de se autorreproduzir, absorver dióxido de carbono e manter a resistência.

“Já usamos materiais biológicos nos edifícios, como a madeira, mas esses materiais não estão vivos", afirma o investigador Wil Srubar, da Universidade do Colorado e um dos autores do estudo publicado na revista científica "Matter", na quarta-feira.


Os cientistas acreditam que este novo material permitirá aos edifícios repararem as suas próprias fissuras, absorver toxinas do ar e até brilhar no escuro – característica que permitirá revelar danos estruturais nos edifícios.

“Parece mesmo um material de Frankenstein”, admite Wil Srubar, engenheiro de estruturas e líder do projeto de investigação.

A equipa de Srubar usou cianobactérias 'Synechococcus', micróbios verdes que absorvem dióxido de carbono para crescer e produzir carbonato de cálcio, o principal ingrediente do calcário e do cimento.

As colónias das bactérias são injetadas numa solução de areia e gelatina e o carbonato de cálcio acaba por solidificar a gelatina, que em conjunto com a areia forma um tijolo.

Desta forma, se cortarem um tijolo ao meio, conseguem que cada uma das metades cresça até darem origem a novos tijolos.


Entre as vantagens deste novo tipo de material está a capacidade de detetar e responder a produtos químicos tóxicos.

O seu uso generalizado poderá ainda reduzir as emissões de dióxido de carbono produzidas no fabrico de cimento – que, atualmente, representa 6% das emissões globais.

Além disso, este "cimento vivo" poderá vir ser utilizado em ambientes muito adversos, mais severos do que os desertos mais secos e em planetas como Marte. Esta é, contudo, uma vertente que ainda precisa de ser desenvolvida, uma vez que é necessário humidade para as bactérias sobreviverem.

Wil Srubar, que dirige o Laboratório de Materiais Vivos, acredita que, no futuro, os cientistas poderão tornar os micróbios mais resistentes à falta de água e que os ingredientes poderão ser vendidos desidratados, bastando juntar água para começar a fabricar "casas microbianas".

"A natureza arranja maneira de fazer muitas coisas de forma inteligente e eficaz, só precisamos de prestar mais atenção", defende, acrescentando que, "em ambientes austeros, estes materiais teriam um desempenho especialmente bom, dado que usam luz do sol para crescer".

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