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Inclusão

Sé de Leiria é o primeiro espaço religioso do país 100% acessível

10 jan, 2020 - 15:43 • Teresa Paula Costa

Projeto partiu do Centro de Recursos para a Inclusão Digital e tem sido bem acolhida pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência.

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A Sé de Leiria é o primeiro espaço religioso do país acessível a todas as pessoas. O Centro de Recursos para a Inclusão digital, do Politécnico de Leiria, preparou um guião e sinalética que permitem a cidadãos cegos, surdos e com incapacidade intelectual terem uma noção dos principais locais interiores da Catedral.

O projeto partiu do Centro de Recursos para a Inclusão digital, cuja coordenadora, Célia Sousa, disse à Renascença que, ao chegarem à porta principal da Sé, as pessoas encontram “pequenas placas com um pictograma, ou seja, um desenho, e ainda a palavra escrita a negro e depois em braille, o que vai permitir também que as pessoas cegas possam ler e perceber onde estão.” Outro pormenor é o facto de que “a negro, as letras são um pouco maiores do que o habitual, a pensar nas pessoas com baixa visão.”

Entrando na porta principal da Sé, à direita, revelou Célia Sousa, “temos a legenda da planta da Sé.” Esta está “em relevo” o que é importante não só para as pessoas cegas, mas para todos, já que, “quando nós chegamos aqui também conseguimos perceber o que simboliza por exemplo a alínea a, vemos aqui que é o átrio, portanto, está para todos.” Ou seja, “a planta dá-nos uma ideia da forma como a Catedral está disposta e o que acontece em cada espaço. “

Entrando na nave central da Catedral de Leiria, à direita, em cima de uma mesa temos os guiões. Segundo Célia Sousa, “temos o guião em braille que tem a fachada da Sé, essa fachada está em relevo, o que vai permitir que as pessoas cegas tenham uma noção” do aspeto exterior do monumento. O guião tem ainda uma explicação do que acontece em cada espaço, pois “temos de pensar que as pessoas cegas muitas vezes por não verem não sabem o que está a acontecer e o que acontece em cada local e em cada momento.” Depois existe “um outro guião em escrita fácil, o quer dizer que cada texto foi trabalhado de modo a tornar-se muito simples e ser entendido por todas as pessoas, nomeadamente idosos e pessoas com baixa literacia.”

No interior da Sé foram também instaladas placas que identificam cada espaço, como o ambão ou a pia batismal, ou ainda algumas imagens religiosas.

O efeito da iniciativa foi já testado. No Dia Internacional das Pessoas com deficiência, as entidades responsáveis juntaram-se na Sé com cidadãos com necessidades especiais que testaram os recursos. No final, ao pároco da Sé, deram conta da sua satisfação, por terem conseguido conhecer melhor aquele espaço e o que ali acontece. Uma jovem confessou ao padre Gonçalo Diniz que as imagens ali colocadas a ajudaram a ver melhor “Jesus e Nossa Senhora”. Ao ter tocado nas imagens percebeu que estas têm a “cruz”.

Para o padre Gonçalo Diniz, o projeto é de enorme importância, por vários motivos. “O mais importante é que as pessoas com algum tipo de deficiência possam sentir que são bem-vindas e que este lugar é também para elas, porque elas nem se aproximam, muitas vezes”, salienta. Essa é a primeira vantagem, acrescenta o sacerdote, que “é dar a resposta de acolhimento e que as pessoas também possam usufruir dele (do espaço) e ter alguma formação.” É que, disse Gonçalo Dinis, “é diferente, quando nós entramos nós próprios vemos a diferença”. Mas o projeto “é também um ganho muito grande para a comunidade em geral,” porque faz as pessoas pensarem “que, de facto, estas pessoas com deficiência existem e precisamos de ter uma sensibilidade maior para elas.”

O objetivo é que o projeto seja alargado a outros espaços do país. Segundo Francisco O´Neill, do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, “a Igreja deu um grande passo e é preciso que esse passo seja consolidado através da difusão para outras igrejas, noutras paróquias.” Para o jurista, este “será um bom pontapé de saída para o próximo ano.”

Pioneiro a nível mundial, o projeto resulta de uma parceria entre o CRID e o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

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