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​PSD não deve ter vencedor à primeira volta. Rio ou Montenegro vão ter de esperar para cantar vitória

09 jan, 2020 - 18:20 • Paula Caeiro Varela

O futuro líder do partido não deve ficar decidido nas eleições diretas deste sábado. As contas feitas pelas estruturas das duas principais candidaturas reconhecem que ninguém consegue mais de 50% à primeira volta. Para fora, ambos continuam a dizer que ganham, mas os operacionais no terreno admitem que o mais provável é haver segunda volta.

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A ciência num partido político nunca é exata, muito menos se esse partido for o PSD, mas os números são o que são. Mesmo que Luís Montenegro acredite que ainda pode ganhar à primeira volta (e pode) ou que os apoiantes de Rui Rio digam que é possível ter maioria já este sábado (e é). Ninguém sabe, ninguém pode ter certezas, mas todos têm números recolhidos junto das estruturas locais que apontam para uma mais do que provável segunda volta, algo inédito no histórico de eleições diretas do partido.

A alteração no método de escolha do líder (que antes era eleito em congresso pelos delegados que representavam os restantes militantes) foi proposta por Luís Marques Mendes, em 2006, mas a obrigação de um candidato ter mais de 50% dos votos só entrou nos estatutos em 2012, já na liderança de Pedro Passos Coelho.

As contas feitas por apoiantes das duas principais candidaturas são diferentes, mas todas apresentam margens que dão no máximo 48% dos votos para... Rui Rio. Nem perto dos otimistas 52% que Salvador Malheiro vaticinava esta semana para o seu candidato.

Neste cenário, traçado à Renascença por apoiantes da atual direção com base nos votos concelhia a concelhia e distrital a distrital, Luís Montenegro terá 43% dos votos e Miguel Pinto Luz 9%. O número total de militantes inscritos com quotas pagas é de 40.348, mas ninguém está à espera que vão todos votar.

Há outros cenários apresentados à Renascença por apoiantes de Luís Montenegro, que apontam uma vantagem mínima para o antigo líder parlamentar, mas nenhum foge a esta verdade dos números: no limite máximo, nem Rio nem Montenegro chegam aos 50%. O culpado? Miguel Pinto Luz.

Lisboa, Lisboa

Miguel Pinto Luz pode não passar à segunda volta como sonha no vídeo que a sua candidatura lançou esta semana, mas chega para desequilibrar as contas num universo eleitoral reduzido pela alteração das regras para o pagamento de quotas, aprovada por Rui Rio, com o argumento de dar maior transparência ao processo.

No pior dos cenários traçados à Renascença, Pinto Luz terá 9% e cerca de 3.100 votos, mas há outras contas feitas que apontam para que possa chegar aos 12%. Ora, mesmo no limiar mais baixo, bastaria uma transferência de votos para que qualquer um dos outros candidatos passasse os 50%.

Lisboa é o esteio do candidato que provavelmente vai ficar pelo caminho (para futuro, quem sabe?), mas também é aí que reside a esperança dos apoiantes de Luís Montenegro. Sim, apesar das contas, ainda ninguém desistiu de achar, de um lado e de outro, que ainda é possível que tudo fique decidido já na primeira volta, até porque o voto é secreto e até as contas dos dirigentes locais podem - lá de longe a longe - sair furadas.

Um exemplo: na candidatura de Rui Rio há quem dê vantagem de 1.500 votos para Rui Rio no Porto, distrito pesado, que vale mais de 18% dos votos. Na de Luís Montenegro estima-se que a derrota seja por 700 a 1000 votos.

Em Lisboa, que vale 14% do total de votos, há 5.706 eleitores inscritos. Partindo do pressuposto de que nem todos vão votar, a candidatura de Luís Montenegro espera conseguir, pelo menos, 1.500, mas acredita que podem ser mais. E que, mesmo descontando a desvantagem que traz dos votos a norte (já lá vamos), pode ser a partir dessa diferença que, tudo somado, leva vantagem sobre Rui Rio. Uma coisa parece unânime entre os que se dedicaram ao trabalho aturado de estudar os números: Lisboa não vai cair em peso para Miguel Pinto Luz.

Votos do Sul podem decidir

No PSD quem ganha é o “Norte”, conceito vasto, mas verdade absoluta entranhada no Partido Social-Democrata.

As maiores concelhias e as maiores distritais estão a norte do Mondego e, por isso, é que os apoiantes de Rui Rio estão convencidos da vantagem que levam.

Porém, os de Luís Montenegro acham que a vantagem de Rio na sua terra (Porto) pode ser anulada por Braga, Bragança, Viseu e, sobretudo, por Aveiro. Rui Rio terá garantidas vitórias em Viana do Castelo, Vila Real, Porto e Guarda.

Em Aveiro ninguém se entende. Salvador Malheiro, homem forte do atual líder e um dos grandes operacionais da sua eleição em 2017, jura que ganha. Os que são por Montenegro dizem que podem ganhar, por 100 votos talvez. Aveiro vale cerca de 10% dos votos.

No Centro e Sul, para além de Lisboa, as maiores distritais caem para Montenegro: Coimbra, Castelo Branco e Leiria.

Em Portalegre ambos clamam probabilidade de vitória (mas também só estão em jogo 0,5% dos votos), Santarém está dividida, Évora será por Montenegro, Beja por Rui Rio. E no Algarve, a vantagem de Rui Rio já terá sido maior. Conta-se que ganhe, mas por 600 contra 400 votos.

No final do mapa, as duas principais candidaturas ficam convencidas que dificilmente passam sem uma segunda volta, a primeira da história das diretas do PSD. Mas claro. As duas dizem que se ganhar alguém já no sábado, esse alguém é Rui Rio, esse alguém é Luís Montenegro. Mais desejo do que certeza.

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