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Youtube deixa de ser próprio para crianças. O que muda para os criadores?

08 jan, 2020 - 11:21 • Inês Rocha

Plataforma introduziu mudanças profundas nas suas regras para cumprir lei de proteção de menores. Alterações que deverão ter consequências pesadas para criadores de conteúdo, principalmente aqueles que fazem conteúdo para crianças.

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Esta terça-feira, entraram em vigor as mudanças que o Youtube introduziu nos seus termos e condições, no que diz respeito ao conteúdo dirigido a crianças. As alterações são profundas e podem afetar, e muito, os criadores de conteúdo, principalmente os que fazem conteúdo para crianças – mas não só.

No último ano, o Youtube foi condenado a pagar uma multa milionária – 170 milhões de dólares (154 milhões de euros) – à Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla original). Em causa, a forma como o site recolhia dados de crianças para lhes mostrar anúncios personalizados, sem nunca avisar os encarregados de educação.

A empresa estava assim a violar a COPPA (Children’s Online Privacy Protection Act), uma lei norte-americana que protege a privacidade das crianças online nos EUA. Segundo esta lei, as empresas online não podem armazenar e utilizar dados de menores de 13 anos sem autorização.

Para cumprir a lei e evitar mais multas, a empresa introduziu mudanças profundas na plataforma. Saiba quais.

1. Youtube passa a não admitir menores de 13 anos

A grande mudança a ser agora introduzida é uma divisão clara entre o Youtube, plataforma para maiores de 13 anos, e o Youtube Kids, uma aplicação separada que filtra o que as crianças podem ver.

Desde o início que o Youtube se classifica como uma plataforma para maiores de 13, mas não tinha qualquer controlo parental e aplicava às contas de crianças as mesmas regras e práticas do que a utilizadores maiores de idade.

O Youtube Kids foi lançado em 2015 como uma plataforma específica para crianças, mas ganhou agora regras mais apertadas, para garantir que a lei de proteção da privacidade das crianças é cumprida.

2. Vídeos para crianças deixam de ter anúncios, comentários e outras funcionalidades

A partir desta semana, os vídeos dirigidos a crianças deixam de ter anúncios personalizados, além de serem desativadas determinadas funcionalidades como comentários, notificações, chat em direto, botão de doação, cartões no final dos vídeos, “autoplay” e ferramentas como "guardar na playlist" ou ver "mais tarde”.

Mudanças que deverão colocar muitos autores em causa, uma vez que a monetização dos conteúdos fica drasticamente mais reduzida.

O Youtube Kids pode mostrar também publicidade, mas os anúncios têm de ser "aprovados como apropriados para famílias" e passam por um "rigoroso processo de revisão para estarem de acordo com as políticas" do Youtube, explica a plataforma.

3. Youtubers passam a ter de marcar canais ou vídeos como “dirigido a crianças” ou “não dirigido a crianças”

As novas regras introduzem alterações também no Youtube Studio, o local onde os youtubers publicam os seus vídeos. Os criadores passam a ter de identificar os seus canais como “dirigido a crianças”, “não dirigido a crianças” (ou os vídeos individualmente, caso produzam conteúdos para os dois segmentos).

Os dados gerados por alguém que veja um vídeo designado como “feito para crianças” passam a ser tratados como vindo de uma criança, independentemente da idade de quem vê os conteúdos. Ou seja, não serão recolhidos para que lhes seja dirigida publicidade relacionada.

4. Youtube reserva-se o direito de fiscalizar

Apesar de colocar a decisão do lado dos criadores, a plataforma desenvolveu um algoritmo para identificar conteúdo que seja "claramente" feito para crianças.

Assim, se o autor do canal não escolher se aquele vídeo é feito para crianças, o algoritmo irá escolher por ele. Caso o proprietário do canal não concorde com a classificação, pode usar o botão "send feedback" para contra-argumentar.

O algoritmo do Youtube tem sido criticado nas redes sociais por identificar qualquer vídeo de animação como conteúdo para crianças, incluindo vídeos de séries para adultos.

A plataforma reserva-se também o direito de corrigir a designação do vídeo, caso detete abusos ou erros.

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