06 jan, 2020 - 07:00 • Pedro Mesquita
Numa altura em que Portugal se comprometeu em acabar com o flagelo dos "sem-abrigo" até 2023, a Renascença apresenta-lhe a história de três pessoas que, durante vários anos, fizeram da rua a sua morada.
Jorge Cardinali é um artista de circo, mágico e recordista mundial a girar pratos; Christian é romeno, e faz vigilância nos albergues noturnos do Porto e Laudelino Jesus era empresário da restauração. Caíram os três para a rua, por culpa do vício da droga.
Entre um e outro relato, há frases que se cruzam.
"Quando dei por ela estava no fundo do poço” “Vivi junto a multibancos e em jardins. Onde me podia aninhar, ali ficava” “A minha vida era o consumo de droga e o álcool. Falta-me tudo, sobretudo não ter ninguém com quem falar” “Uma conversa amiga caia melhor do que uma sopa”
Viver na rua é estar à vista de todos e enfrentar a indiferença.
“Não me sentia uma pessoa. Nós perdemos a identidade” “Às vezes as pessoas nem olham, mas quando não queres dar dinheiro podes convidar a pessoa a comer” “Quando estamos sem fazer higiene há muito tempo, não cheiramos bem, não somos seres visualmente agradáveis”
Mas nestas três histórias paralelas houve, também um momento decisivo, a força necessária, com a ajuda de alguém, para reconquistar a identidade.
“Foi um clique que me deu. Estava farto da droga, de estar na rua, e fui pedir ajuda ao meu filho. Ele respondeu-me: Eu ajudo-te, cota, mas quem impõe as regras sou eu. Fiz um tratamento, deixei a droga e tornei-me voluntário da rede europeia anti-pobreza. Também regressei aos espetáculos de circo” “No meu caso foi uma conversa com um antigo sem-abrigo. Conversámos e ele aconselhou-me duas coisas: Sair da rua e deixar as drogas” “Comigo o que aconteceu foi que me lembrei do meu filho e não quis que a minha história terminasse assim. Houve, depois, uma equipa de rua que me ajudou”
Esta é uma história de identidades reconquistadas.