Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​O problema militar

27 dez, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O fim de serviço militar obrigatório, em 2004, deveria ter dado lugar a Forças Armadas profissionalizadas e altamente competentes. Ora esse objetivo está em risco por causa da dramática redução de efetivos. Os políticos têm responsabilidades nesta situação.

O exército português tem hoje metade dos efetivos que tinha em 2002. E, somando oficiais com sargentos, esse número ultrapassa a quantidade de praças - como se diz na gíria, há mais chefes do que índios. Na marinha e na força aérea a situação não é muito diferente. O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, disse que temos cerca de 4 mil militares a menos.

O fim do serviço militar obrigatório (SMO) em 2004 explica grande parte desta dramática carência de efetivos. Personalidades como o general Eanes, ex-presidente da República, ou Manuel Alegre defenderam voltar ao SMO. Em alguns países europeus tal regresso deu-se, mas o nosso ministro da defesa afirma que Portugal não tem condições atuais que justifiquem voltar ao serviço militar obrigatório. Basta lembrar que as juventudes partidárias são ferozmente contra o SMO.

Haverá, então, que pagar mais a quem decida tornar-se militar profissional. E melhorar as suas perspetivas profissionais uma vez findo o contrato. O que, olhando para a proposta de Orçamento do Estado para 2020, se vê que não acontecerá tão cedo, pois a verba aí inscrita para salários de militares baixa em relação a anos anteriores.

O que vai refletir-se negativamente também num outro fator da diminuição dos efetivos militares: a saída de muita gente dos quadros permanentes, saída que no ano que agora termina atingiu proporções preocupantes. 2019 é o pior dos últimos anos.

Não é só dinheiro que está em causa nesta debandada de efetivos militares, do quadro permanente e dos contratados. Desde o início do séc. XIX os militares intervieram frequentemente na política – eles possuíam as armas. A última intervenção foi em abril de 1974. Depois, perderam importância social e política.

Numa democracia onde o poder político se sobrepõe ao poder militar essa perda de importância é normal, até certo ponto. Concretamente, até ao ponto em que o país se arrisca a não ter umas Forças Armadas altamente competentes e profissionalizadas, como era o objetivo quando se extinguiu o SMO.

Infelizmente, os políticos têm dado fraca atenção aos problemas das Forças Armadas. Até na quase nula pedagogia que deveriam fazer, mas raras vezes fazem, sobre a importância dos militares para uma nação digna desse nome.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Maximino Martins
    29 dez, 2019 21:19
    Foi um disparate, ter acabado com o serviço militar obrigatório... Deveria continuar a ser obrigatório e depois de 3 meses de recruta... Quem queria seguir, ficava como voluntário...quem não queria... Ia embora para casa... Os políticos portugueses, na sua maioria...não têm capacidade para o ser (e tomar decisões a bem do País...)
  • Álvaro Alexandre
    28 dez, 2019 Leiria 06:53
    Eu tenho 19 anos e sou a favor do SMO. Existe muito pessoal da minha idade que devia ir para colocar as ideias sitio..
  • TROPA
    28 dez, 2019 Porto 00:18
    Boa noite meus caros, sou um ex militat com serviço militar cumprido e uka missão num teatro de operações "perigoso". O problema das FA está, antes de mais, na ideologia ultrapassada predominante. Muita burrice e 90% dela na chefia. Em segundo, os vencimentos são uma vergonha bem como as oportunidades dadas aos militares contratados, existindo um desdém por parte de quem a essa vida decidiu chamar de carreira. Para terminar, como é de conhecimento geral, a tropa está infestada de altas patentes sem nenhuma função e com apenas subordinados. Não há nada a fazer porque Portugal é assim. Ah, e não o esquecer a mentira que passam para os órgãos de comunicação.
  • Cidadao
    27 dez, 2019 Lisboa 23:51
    Receio que para instilar ideias de disciplina, ordem, hierarquia, civismo, espírito de corpo, e as regras mais básicas de boa educação e de convivência nesta juventude de hoje, onde, como o comentador J M fêz notar, à mínima contrariedade temos em mãos uma explosão de histerismo, e birrinhas de meninas e meninos mimados, seja preciso muito mais que o SMO. Esse, seria o último degrau. Antes dele, isso tinha de começar em casa, noções que seriam dadas pelos Pais, complementadas na Escola por professores com autoridade, e só depois num SMO como último degrau. Este, não existe, e os outros uns mais outros menos, também vão desaparecendo. O primeiro contacto desta juventude de hoje com a disciplina e ordem, arrisca cada vez mais a ser quando vão parar à esquadra, depois de terem feito m**da. E quando assim é... Quanto à Defesa Nacional, recordo que já vai havendo capacidade tecnológica para integrar até equipamentos portugueses em exércitos estrangeiros de países mais poderosos. Temos Tropas de valor reconhecido em Teatros de operações violentos. E por cá também sabemos "mexer" em drones, Radares, fragatas e submarinos com misseis, tanques que são dos melhores da Europa (Leopard II), logo não estamos assim tão na "pedra". Precisávamos era do que não temos: exaltação do espírito Nacional, da ideia de Pátria e de investimento. E como não há nada disto...
  • J M
    27 dez, 2019 Seixal 15:56
    Para o senhor Francisco as forças armadas não são competentes no desempenho das funções que lhes são atribuídas? É uma brincadeira de mau gosto ou tem andado distraído. As forças armadas não são Tancos. O regresso do SMO nos dias que correm, seria uma tremenda dor de cabeça tanto para as chefias como para o ministério da defesa. Os meninos e meninas de hoje, basta tirar-lhes o telemóvel para desencadear um ataque de histerismo difícil de controlar, com consequências óbvias para a hierarquia militar. A saída dos efectivos dos quadros permanentes, ao contrário do que o senhor escreve, não é de livre arbítrio. Antes de comentar os envolvimentos dos militares na política, os seus salários ou a sua competência, ponha de lado as suas convicções, porque os militares com as armas que têm sempre respeitaram a nação.
  • António Silva
    27 dez, 2019 15:52
    A questão do SMO transcende em muito a mera defesa. Numa sociedade em que não abundam a disciplina, a ordem, a hierarquia, o civismo, o espirito de corpo, as regras mais básicas de boa educação e de convivência, o SMO seria talvez a única oportunidade para se instilar nos jovens algumas regras básicas que é necessário entender e cumprir, para que a vida em sociedade se norteie mais pela solidariedade e complementaridade, do que pelo egoísmo e pela agressividade. Daí que a respetiva reintrodução teria decerto vantagens. Se reduzirmos tudo à tecnologia, então o melhor é mesmo dissolver totalmente as FA, porque Portugal, tal como muitos outros países, nunca terá os meios tecnológicos, financeiros e materiais que lhe permitam uma defesa "tecnológica".
  • Cidadao
    27 dez, 2019 Lisboa 09:52
    Numa época onde impera a tecnologia, o regresso do SMO apenas significa gente mal preparada, desmotivada, mesmo contrariada, capacitada no máximo para tarefas rotineiras do dia-a-dia, nunca para as exigências de umas Forças Armadas que se querem preparadas para os desafios atuais. Por outro lado, para F.A. profissionais e voluntárias, é não só necessário pagar a justa compensação, como pensar na reinserção na vida civil quando o contrato acabar. Nada disto está salvaguardado e como diz o autor, este ano ainda menos. Ou o governo quer acabar com as F.A. e tornar este País um protetorado de Espanha, ou tal como no SNS, está à espera da Implosão, para fazer alguma coisa. O pior vai ser se começam a entrar por aí adentro hordas de imigrantes ou pressentindo a falta de Força, os estrangeiros (que já ultrapassam os 500 000) que já cá vivem, se viram contra nós. Aí quero ver como com uma Polícia "velha" e sem F.A., o governo repõe soberania.