27 dez, 2019
O exército português tem hoje metade dos efetivos que tinha em 2002. E, somando oficiais com sargentos, esse número ultrapassa a quantidade de praças - como se diz na gíria, há mais chefes do que índios. Na marinha e na força aérea a situação não é muito diferente. O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, disse que temos cerca de 4 mil militares a menos.
O fim do serviço militar obrigatório (SMO) em 2004 explica grande parte desta dramática carência de efetivos. Personalidades como o general Eanes, ex-presidente da República, ou Manuel Alegre defenderam voltar ao SMO. Em alguns países europeus tal regresso deu-se, mas o nosso ministro da defesa afirma que Portugal não tem condições atuais que justifiquem voltar ao serviço militar obrigatório. Basta lembrar que as juventudes partidárias são ferozmente contra o SMO.
Haverá, então, que pagar mais a quem decida tornar-se militar profissional. E melhorar as suas perspetivas profissionais uma vez findo o contrato. O que, olhando para a proposta de Orçamento do Estado para 2020, se vê que não acontecerá tão cedo, pois a verba aí inscrita para salários de militares baixa em relação a anos anteriores.
O que vai refletir-se negativamente também num outro fator da diminuição dos efetivos militares: a saída de muita gente dos quadros permanentes, saída que no ano que agora termina atingiu proporções preocupantes. 2019 é o pior dos últimos anos.
Não é só dinheiro que está em causa nesta debandada de efetivos militares, do quadro permanente e dos contratados. Desde o início do séc. XIX os militares intervieram frequentemente na política – eles possuíam as armas. A última intervenção foi em abril de 1974. Depois, perderam importância social e política.
Numa democracia onde o poder político se sobrepõe ao poder militar essa perda de importância é normal, até certo ponto. Concretamente, até ao ponto em que o país se arrisca a não ter umas Forças Armadas altamente competentes e profissionalizadas, como era o objetivo quando se extinguiu o SMO.
Infelizmente, os políticos têm dado fraca atenção aos problemas das Forças Armadas. Até na quase nula pedagogia que deveriam fazer, mas raras vezes fazem, sobre a importância dos militares para uma nação digna desse nome.