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Polémica

Estátua de Salazar ficará guardada, mas Câmara de Santa Comba lembra: "Vivemos com muitos fantasmas"

20 dez, 2019 - 19:20 • Redação

"O passado não pode ser escondido, pelo contrário, tem de ser bem recordado para não voltar acontecer”, reiterou o autarca Leonel Gouveia, do PS, desmentido uma preocupação levantada pelo BE, que denunciava a possibilidade de uma estátua antiga do ditador vir a ser exposta. “Está devidamente acondicionada na Câmara e nunca foi pensada a sua instalação.”

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A Câmara Municipal de Santa Comba Dão rejeitou esta sexta-feira que alguma vez tenha sido equacionada a exibição de duas estátuas de Salazar na sua posse, por cedência da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

O presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia (PS), afastou essa possibilidade, depois de o Bloco de Esquerda (BE) ter pedido acesso ao protocolo da cedência das duas estátuas do ditador, receando que uma delas pudesse vir a ser exibida na cidade. “Existem duas estátuas com a figura de Salazar guardadas pela Câmara de Santa Comba Dão. Uma delas poderá ser exibida na cidade em local ainda a definir. A Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda assume-se manifestamente contra essa possibilidade, que considera uma ofensa e um ultraje aos valores da democracia e da liberdade”, assumiu o partido.

O presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão contou que, em 2017, a DGPC o contactou, porque “tinha duas estátuas no Mercado Abastecedor de Lisboa, que tinham sido retiradas há alguns anos do Palácio Foz, e agora precisavam de libertar o espaço e [perguntava] se a autarquia as queria receber a título de cedência, não doação”. “É uma estátua e um busto e estão devidamente acondicionadas em edifício da Câmara Municipal e não temos e nem nunca foi pensada a sua localização e a sua instalação, se é que alguma vez ela venha a acontecer. Não é verdade que alguma vez tivesse tido alguma localização, nem nunca esteve este assunto em cima da mesa”, afirmou Leonel Gouveia.

O autarca esclareceu também que as duas peças não terão qualquer ligação ao centro interpretativo que está a ser preparado como “parte de uma rede de centros de história e de memória do século XX”, reiterando a “garantia de que o centro interpretativo do Estado Novo não terá nenhum objeto pessoal, nem nenhum busto” de Salazar.

“Infelizmente vivemos com muitos fantasmas do passado e devíamo-nos preocupar com o futuro. Acho que estas abordagens fundamentalistas até fazem crer que Santa Comba Dão é uma terra de fascistas e que fique claro que estamos a trabalhar do ponto de vista científico, do ponto de vista daquilo que foi o século XX português e, em particular, o Estado Novo”, insistiu. Até porque, defendeu, “o passado não pode ser escondido, pelo contrário, tem de ser bem recordado para não voltar acontecer”.

Em outubro, Leonel Gouveia já havia afirmado que a Câmara de Santa Comba Dão queria transformar a Escola Cantina Salazar num “espaço de celebração da democracia”, que promova o conhecimento histórico, dando a conhecer, “de forma isenta”, uma parte da história do século XX.

Numa nota, o presidente do município reiterava que nunca teve intenção de construir um "Museu Salazar", mas sim um Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN), no qual não seria incluído espólio pessoal do ditador. “É nosso objetivo que o CIEN seja um equipamento obrigatório para a visita de escolas, que sirva de local de estudo para estudantes universitários, que receba investigadores e historiadores, que seja um espaço de celebração da democracia”, frisa.

Segundo o autarca socialista, “o equipamento constituir-se-á como um espaço de conhecimento, cultura, de educação e história, que dará a conhecer uma época e a sua contextualização”, ficando a salvaguarda da integridade do projeto assegurada por uma comissão de acompanhamento, constituída “por representantes do concelho e historiadores, que não deixarão adulterar os conteúdos a apresentar”.

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