16 dez, 2019 - 12:12 • Marta Grosso com Lusa
Maria Flor Pedroso colocou “o seu lugar [na direção de informação] à disposição”, anuncia nesta segunda-feira a RTP. A jornalista considera não ter "condições para a prossecução de um trabalho sério".
O pedido já foi aceite pela administração da estação pública de televisão, por não ter “outra alternativa”, sendo sublinhado o "currículo irrepreensível" da ex-diretora de informação.
Em comunicado, o Conselho de Administração (CA) da RTP refere que "recebeu uma comunicação da diretora de informação Maria Flor Pedroso a colocar o seu lugar à disposição, por esta considerar que, face aos danos reputacionais causados à RTP, não tem condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como sempre tem feito".
“Após auscultação dos motivos invocados pela diretora e exclusivamente por esses motivos, o CA considera que não tem outra alternativa que não seja aceitar essa decisão”, prossegue a nota.
Depois de agradecer a Maria Flor Pedroso, assinalando-lhe “idoneidade” e “currículo irrepreensível”, a equipa liderada por Gonçalo Reis afirma acreditar que “a linha editorial que vinha a ser seguida pela direção, assente num jornalismo objetivo e rigoroso, livre e independente, isento e plural, é a matriz de uma serviço público de excelência, em absoluto contraste com a crescente tendência para um jornalismo populista e sensacionalista”. Estilo que repudia “veementemente” e considera “imperativo combater”.
“O CA nomeará em breve uma nova direção à qual continuará a exigir a implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja o mais completo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total serviço do público”, remata o mesmo comunicado.
A decisão de Maria Flor Pedroso surge depois de um desentendimento com a jornalista Sandra Felgueiras, que acusou a ex-diretora de ter transmitido informação privilegiada ao Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), visado numa reportagem do "Sexta às 9" (programa coordenado pelas duas jornalistas).
Em causa, o programa sobre a exploração de lítio e alegado recebimento indevido de “dinheiro vivo”.
Em causa está uma reportagem sobre suspeitas de co(...)
Maria Flor Pedroso “rejeitou liminarmente” ter passado quaisquer informações e, em posição escrita sobre a “verdade dos factos”, vincou: “Nada foi falado sobre o contrato de compra e venda do imóvel ou outros dados da investigação. A diretora de informação limitou-se a defender os interesses da RTP ao tentar contrariar a recusa de uma entrevista”.
Mas a contenda prosseguiu e, na sexta-feira, mais de 50 jornalistas subscreveram um abaixo-assinado em defesa de Maria Flor Pedroso, no qual realçam, em quatro pontos, “30 anos de jornalismo, sem mácula", uma "jornalista exemplar", "reconhecida e respeitada pelos pares" e “uma das mais sérias profissionais do jornalismo português", tendo chegado "por mérito ao cargo que atualmente ocupa".
No domingo à noite, este abaixo-assinado já contava com mais de 130 assinaturas.
Para esta segunda-feira, estava marcado um plenário de jornalistas convocado pelo Conselho de Redação da RTP, mas a decisão da demissão foi conhecida antes.
"Direção nunca cedeu a outra motivação que não fosse informação isenta"
A diretora de informação da televisão da RTP, Maria Flor Pedroso, afirma que o projeto profissional da direção liderada por si "nunca cedeu a motivação outra que não a da causa de uma informação livre, isenta, plural e independente".
"O projeto profissional a que esta direção se entregou, por mim liderada, nunca cedeu a motivação outra, que não a da causa de uma informação livre, isenta, plural e independente", refere a jornalista na carta enviada ao presidente da RTP, na qual pôs o lugar à disposição.
"Face à reiterada exposição pública de insinuações, mentiras e calúnias, à qual eu e a minha direção somos totalmente alheios, face aos danos reputacionais causados à RTP, considero não haver condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como tentámos realizar ao longo deste ano de mandato", sublinha Maria Flor Pedroso.
A diretora de informação cessante refere ainda que: "A construção de realidades alternativas a partir de meias verdades, da qual se alimenta um certo tipo de jornalismo no qual não me revejo, é um dos problemas da sociedade atual que precisa de um jornalismo vigoroso e rigoroso, livre e independente, isento e plural para robustecer as sociedades democráticas".
"Tinha a expectativa de que - quando aceitei o seu convite que muito me honrou - ao escolher uma direção de enorme valia profissional, diversa nos curriculuns, nas experiências e no género, formada por jornalistas com provas dadas da sua competência e rigor, de poder contribuir para prestigiar o serviço público de televisão e todos os que nele trabalham", acrescentou Flor Pedroso, que termina agradecendo ao presidente da RTP, Gonçalo Reis, "pela forma sempre leal e frontal" com que foram "ultrapassando os problemas que iam surgindo".