16 dez, 2019
Há poucas semana atrás, Trump afirmou que um acordo comercial com a China poderá acontecer apenas depois das eleições presidenciais americanas, em novembro de 2020, apesar de - dizia ele - os governantes chineses estarem ansiosos por um tal acordo. Há três dias, Trump escreveu num “tweet” que estaria iminente um “grande acordo” comercial com a China. “Eles (os chineses) querem-no e nós também”. Uma novidade, o interesse de Trump em chegar a acordo.
É positiva esta pausa na guerra comercial entre os EUA e a China – mas não se trata propriamente de um grande acordo. É um acordo parcial, que impede a imposição, por Washington, de direitos alfandegários adicionais sobre 160 mil milhões de dólares de importações vindas da China (“smartphones”, jogos em vídeo, roupas desportivas, etc.). Em contrapartida, a China promete comprar cerca de 200 mil milhões de bens aos EUA.
Não é saudável esta volatilidade das posições americanas – isto é, do presidente –, que provoca enorme incerteza nos mercados e retrai investimentos. Por exemplo, em outubro Trump anunciou que Pequim e Washington tinham concordado quanto a uma primeira fase de um acordo – mas nada aconteceu depois. Até agora.
Um facto positivo foi Trump ter negociado com congressistas do partido democrático a aprovação do novo acordo dos EUA com o Canadá e o México, substituindo a Nafta. Mas do lado negativo emergiu recentemente um dado preocupante: Trump, que detesta organizações multilaterais, está a cortar as pernas à Organização Mundial do Comércio, ao impedir a ida para os tribunais da OMC de novos juízes para dirimirem conflitos comerciais.
Assim se instaura a lei da selva no comércio internacional, ambiente onde Trump se sente bem, pois o seu país é o mais poderoso. O novo comissário europeu desta área, o irlandês Phil Hogan, está a preparar a UE com novas leis, suscetíveis de compensar, em parte, esta paralisação da OMC (permitindo, por exemplo, que a UE possa impor retaliações comerciais sem passar pela OMC).
Por outro lado, já é patente que o protecionismo de Trump não trouxe à economia americana muitos dos benefícios que eram anunciados. Os consumidores americanos sentem que pagam mais caro o que compram. Na agricultura dos EUA e em certas indústrias, como o fabrico de automóveis, reina uma certa desilusão com o protecionismo. O que não surpreende, numa economia cada vez mais internacionalmente ligada.