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​Fundos, obrigações ou ações. Como investir em “produtos verdes”?

13 dez, 2019 - 17:11

Sim, é possível investir, ganhar dinheiro e ser ambientalmente responsável. São produtos com risco, mas fazem crescer as poupanças.

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Podemos preocuparmo-nos com o ambiente e a pegada ecológica e, ao mesmo tempo, procurar os melhores investimentos para as nossas poupanças? Sim. Chama-se “desenvolvimento sustentável” e não exige a eliminação do lucro, pelo contrário, é um modelo que “alerta para a necessidade de inclusão dos impactos ambientais e sociais na forma como o retorno económico-financeiro é gerado”.

Neste momento, existem no mercado essencial três tipos de produtos verdes, fundos, obrigações e ações. O mais conhecido são as obrigações verdes (“green bonds”): títulos de dívida emitidos para financiar projetos climáticos e ambientais. Podem ser emitidas por Estados ou privados.

Mas, são os fundos que têm recebido mais investimento. Segundo João Queiroz, analista da GoBulling, “os fundos de investimento já têm uma oferta considerável e perspetiva-se que continuem em crescimento. Há também um conjunto de fundos em bolsa, os “Exchange Trader Fund’s” que têm estado a aumentar.”

A oferta cresce, em linha com o aumento da procura. “Há dois ou três anos era mais a robotização e a inteligência artificial, depois passámos para empresas de cuidados de saúde e para as biotecnológicas. Agora passou a estar na moda a sustentabilidade, a igualdade de género, as boas práticas comerciais.”

As empresas em bolsa disponibilizam toda a informação e qualquer investidor pode fazer a pesquisa individualmente. No entanto, as grandes casas de investimento, com outro nível de recursos, fazem esta análise de forma mais eficaz, defende o diretor da negociação eletrónica da Gobulling, do Banco Carregosa.

“As grandes gestoras mundiais já têm todas este tipo de instrumentos e a forma como está estruturada a indústria de fundos já permite a distribuição sem o investidor ter que sair do banco ou da gestora para subscrever noutro sítio, portanto, a oferta é facilmente extensível ao depositante ou cliente bancário”, afirma.

Estes não são produtos isentos de risco, eles estão associados ao próprio modelo de negócio. No entanto, João Queiroz lembra que estas empresas já investiram em tecnologia, no curto prazo podem não oferecer tanto retorno, mas a médio-longo prazo recuperam os lucros.

Sem nomear empresas, João Queiroz explica que já existem cotadas no país a adaptar o sistema produtivo para as exigentes regras do “desenvolvimento sustentável”, atenta à eficiência energética, à pegada ambiental, etc.

“Não existem gestoras portuguesas a oferecer estes produtos, porque a oferta internacional é grande. Há casas que oferecem estratégias de investimento ou alocação em empresas, similares a estes fundos, que cumprem um conjunto de normas e boas práticas.”

Em Portugal existe um regime legal específico para fundos e sociedades de empreendedorismo social, desde 2015. Em novembro de 2018, a CMVM registou a primeira sociedade de empreendedorismo social, que já tem um fundo.

Na prática, os investimentos podem dividir-se por fundos, ações e obrigações, tudo depende do montante a investir e do prazo. Para valores mais pequenos, João Queiroz recomenda os fundos, para quem tem mais algum capital para investir, pode então avançar para as ações e obrigações.

Desenvolvimento sustentável – 17 metas

Podem ser uma moda, mas os chamados investimentos sustentáveis ou produtos verdes não surgem por acaso. Têm como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável e assumiram 17 metas, estabelecidas pela ONU, em 2015.

Segundo a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), responsável pela regulação destes produtos, estes objetivos visam “a criação de um modelo global de governo da sociedade que se foca nos indivíduos, nos direitos humanos, na resposta às desigualdades sociais e em questões centrais como a paz, a segurança e as alterações climáticas”. Defendem ainda o uso dos recursos financeiros de forma inclusiva, equilibrada e sustentável.

O que são “finanças sustentáveis”?

Qualquer serviço ou produto que inclua fatores ambientais, sociais ou de governo das sociedades nos negócios ou decisões das organizações privadas, públicas ou do terceiro setor (ONGs). Podem financiar, por exemplo, a inovação, a conservação e infraestruturas, a utilização eficiente de recursos, baixas emissões de carbono e comunidades locais.

Que investimentos podem ser considerados "sustentáveis"?

Segundo a CMVM, os investimentos sustentáveis ou “produtos verdes” são os investimentos normalmente apelidados de investimentos de impacto, éticos, na comunidade e verdes, entre outros.

Estes produtos partilham um ou mais fatores ESG, além da vertente do retorno financeiro. ESG é um acrónimo, em inglês, para “Environmental, Social and Governance” - correspondem a fatores de natureza ambiental, social e de governo das sociedades.

Os fatores ambientais incluem preocupações com a pegada ambiental ou a gestão ambiental de produtos. Os fatores sociais englobam direitos dos trabalhadores, segurança, diversidade, acesso à saúde e desenvolvimento físico, literacia, entre outros. Já os fatores de governo das sociedades abrangem a gestão, transparência, independência dos órgãos sociais, direitos dos acionistas, combate à corrupção, entre outros.

A introdução de fatores ESG, combinado com o fator económico-financeiro, procura diminuir os riscos (como os que estão associados a indústrias poluentes), preservar o mercado e potenciar o retorno financeiro e o desenvolvimento empresarial e dos mercados.

Investimento de impacto: além de retorno financeiro para o investidor, visa gerar efeitos sociais ou ambientais benéficos específicos que sejam mensuráveis, ou seja, cujos impactos sejam 'visíveis'.

Investimento ético: elimina ou seleciona ativamente os investimentos de acordo com diretrizes específicas (favorecem indústrias que respeitam critérios éticos e excluem outras que os desconsideram ou prejudicam, por exemplo envolvendo álcool, jogo, tabaco ou armas)

Investimento comunitário: direciona capital de investimento para comunidades, por vezes associado a comunidades privadas de acesso aos serviços tradicionais das instituições financeiras. Geralmente destina-se a permitir ou facilitar o acesso a crédito, capital, habitação e produtos bancários básicos aos quais essas comunidades não têm acesso.

Investimento verde: é focado, maioritariamente, no fator ambiental, incluindo investimentos em energia renovável, eficiência energética, tecnologia limpa, infraestruturas de transporte de baixo carbono, tratamento de água e eficiência de recursos.

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