12 dez, 2019 - 06:56 • Maria João Costa
Nem todos os ingleses votaram a favor do Brexit por razões xenófobas ou nostálgicas, afirma Jonathan Coe. Em entrevista à Renascença, o escritor britânico admite que um novo referendo pode ser a melhor das piores soluções para o Reino Unido.
O autor, que lançou recentemente o livro "O Coração de Inglaterra" (Porto Editora), considera que a saída de Inglaterra da União Europeia está a ter efeitos nefastos na economia britânica.
Jonathan Coe, que escreveu este romance sobre a vida de várias personagens afetadas pelo Brexit, acha que um segundo referendo será “a melhor das piores soluções”, mas “não resolveria nada”.
“Iriamos ficar outra vez a discutir sobre a validade e autoridade do segundo resultado. Não há uma boa solução para a situação em que nos metemos. Mas talvez, um segundo referendo seja a melhor das piores soluções. No curto prazo não estou nada otimista quanto à situação britânica”, afirma o autor que passou os últimos dois meses numa residência literária, em Cascais, a convite da Fundação D. Luís I.
Acredita que uma repetição do referendo iria refletir a divisão existente no Reino Unido sobre ficar ou sair da União Europeia, mas desta vez com uma vitória do “remain” por curta margem.
Eleições no Reino Unido
A partir da Universidade de Richmond, em Londres, (...)
Jonathan Coe constata que o Brexit ainda não aconteceu – foi novamente adiada para 31 de janeiro -, “mas os efeitos económicos já estão a ser adversos”.
“Quando acontecem de forma gradual, as pessoas tendem a não notar. A libra já perdeu um quarto do seu valor desde 2016. Ninguém fala ou pensa nisso, apenas aceitamos as coisas como são. É uma loucura.”
Jonathan Coe tem andado pela Europa a apresentar o livro "O Coração da Europa" e diz que encontrado nos europeus a tristeza quanto à saída de Inglaterra da União Europeia.
O escritor que votou contra o Brexit acha que a Europa vai ficar mais enfraquecida depois deste longo processo.
“De um ponto de vista, acho que a União Europeia a 27 vai ficar muito contente por ver os ingleses a saírem por uns tempos, para que nós possamos resolver os nossos desentendimentos internos e depois regressarmos dentro de uma ou duas décadas como um Estado-membro mais entusiasmado. Mas também fico muito espantado, quando ando por vários países a apresentar o meu livro e a conhecer leitores, porque vejo que os outros países europeus estão tristes com a saída dos britânicos.”
“Nós não soubemos apreciar isto, mas eramos vistos como uma presença e influência importante, estáveis, racionais e pragmáticos. Contudo, afinal não eramos tão estáveis, racionais e pragmáticos como todos pensavam que eramos. O sentimento com que fico, ao contactar com outros europeus, é que sentem que a Europa vai ficar mais fraca e pior sem a presença britânica”, conclui Jonathan Coe em entrevista à Renascença.