Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

“Finalmente vamos contribuir para eleger o Governo”. Cinco histórias de portugueses que votam no Reino Unido

11 dez, 2019 - 22:44 • António Fernandes, correspondente em Londres

Ajudam a escolher o governo britânico pela primeira vez e uma das portuguesas que falou com a Renascença até admite que teve de "estudar" um processo eleitoral bem diferente do português. O voto útil é um conceito que numas eleições com círculos muito pequenos ganha importância.

A+ / A-

O Reino Unido vai a votos, esta quinta-feira, pela terceira vez em quatro anos, em eleições antecipadas convocadas para tentar desatar o nó do Brexit. Uma vez que só os cidadãos britânicos ou da Commonwealth podem votar, num total de 45 milhões de eleitores, os europeus acompanham maioritariamente como espetadores.

Esse não é o caso, no entanto, de alguns portugueses que vão votar nas legislativas pela primeira vez. Abel Oliveira vive em Londres desde 2012, é cidadão britânico desde maio deste ano e está entusiasmado com a ideia: “Sempre dei importância ao voto e agora, como sou cidadão de outro país, tenho a oportunidade de votar também para decidir o rumo que o país vai tomar, o que é algo que me interessa”.

Também Miguel Torres, que vive em Cambridge desde 2012, obteve a dupla-nacionalidade este ano, com a esperança de votar “num futuro referendo para ficar na União Europeia". "Obviamente, estas eleições vão ser determinantes para isso. Sinto que são as eleições mais importantes em que já votei”, reconhece.

Em Oxford, Rita Cabrita e José Antunes vão agora votar pela primeira vez, apesar de já viverem no Reino Unido há 17 anos. Naturalizaram-se por causa do receio de se “tornarem cidadãos de segunda depois do Brexit” e, principalmente, porque os três filhos, que brincavam à sua volta durante a entrevista, têm nacionalidade britânica. “Finalmente vamos contribuir para eleger o Governo”, disse Rita, satisfeita.

Christina Branco chegou ao Reino Unido apenas em 2018, mas pode votar ao abrigo da Commonwealth, por ter também cidadania do Canadá, e admite que teve de “estudar" o processo eleitoral: "Aqui funciona de forma diferente, com os círculos eleitorais. Um deputado representa efetivamente um círculo eleitoral geográfico bastante pequeno e entusiasma-me poder tomar parte dessa decisão”.

A questão dos círculos eleitorais está bem presente no pensamento destes eleitores, um assunto que Eunice Goes, professora de Política na Universidade de Richmond em Londres, esclareceu à Renascença: “Na realidade são 650 eleições que estão a decorrer. Cada círculo é um ato eleitoral onde os eleitores podem escolher um deputado e o que for mais votado não precisa de uma maioria, é ele que ganha o lugar. Nestas eleições, e é um fenómeno que já dura quase há 10 anos, há cada vez menos bastiões seguros para os partidos. Portanto, há deputados que foram eleitos com pluralidade ou maiorias muito pequenas. Ora isto significa que o partido rival tem uma chance elevada de ser eleito”.

Em quem votam os portugueses nas eleições britânicas?

Por isso, muitas vezes os eleitores votam num partido que não é o seu preferido, mas aquele que os aproxima do seu objetivo. A nota comum entre os portugueses que falaram com a Renascença foi a do voto útil. Christina Branco vai votar nos trabalhistas, não só porque concorda com o que leu no manifesto mas “porque o importante é mesmo tirar os Conservadores do poder e não acreditar em Boris Johnson.”

Abel Oliveira ainda não se decidiu em quem vai votar “porque existe a história do voto útil". "Eu sei quem não quero que ganhe, que são os conservadores. Estou inclinado para pôr a minha cruz entre os liberais-democratas e os trabalhistas, mas se pensar no voto útil então devo votar nos trabalhistas”.

Em Oxford, tanto Rita quanto José não queriam “estragar um voto". Rita diz estar alinhada com as ideias da deputada trabalhista, que "deve ganhar", o que não quer dizer que, se votasse directamente no primeiro-ministro, apoiasse Jeremy Corbyn: "Se calhar votaria nos liberais-democratas, mas aqui dificilmente ganhariam. É um voto útil”.

Uma questão também abordada por Miguel Torres, ainda que em Cambridge os trabalhistas, em quem vai votar, costumem ganhar. Desta vez, vão ter também o voto de Miguel porque o “deputado de Cambridge, Daniel Zeichner, tem feito um bom trabalho e defenderá até à última a permanência na União Europeia”.

O Brexit é por isso uma questão bem presente no processo decisório. Rita Cabrita sabe que a hipótese de permanecer na União Europeia é “remota, mas se toda a gente ajudar um bocadinho pode ser que ainda haja esperança”. As preocupações não ficam por aí: como relembra Christina Branco, o Brexit “está na cabeça de toda a gente, mas é preciso não esquecer os anos de austeridade e o que isso tem feito ao Serviço Nacional de Saúde (NHS) e às escolas”.

A austeridade é também um dos pontos destacados por Miguel Torres, que defende ter sido imposta “com a redução das despesas do Estado”, algo que se nota “nos serviços públicos, nomeadamente o NHS". A crise climática também é uma preocupação, e também uma certa atitude anti-imigração. Abel Oliveira teme que os “padrões em termos de qualidade de vida desçam, desde os produtos alimentares à saúde”. Rita Cabrita está preocupada que a economia entre em recessão e que o custo de vida de aumente, enquanto José quer ver o crime violento resolvido.

As últimas sondagens dão pela primeira vez uma maioria a Boris Johnson e aos conservadores, mas há pelo menos cinco eleitores que vão tentar evitar que isso aconteça, nesta primeira vez em que vão poder ajudar a decidir o futuro de um país que também é seu.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+