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“Os assistentes religiosos são hoje bombeiros”

06 dez, 2019 - 12:15 • Liliana Monteiro

Coordenador dos capelães hospitalares lamenta que ainda exista preconceito entre espiritualidade e saúde e confessa que há uma revolução cultural a fazer. Há um Estatuto do Assistente por regular e uma disciplina que falta nos cursos de medicina, afirma o padre Fernando Sampaio.

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Há 33 anos nos hospitais Portugueses, o padre Fernando Sampaio diz que é preciso fazer uma revolução na assistência espiritual, “o modelo que nós temos na nossa cabeça é que o assistente espiritual faz atos religiosos e não acompanha. Não! Nós temos de acompanhar os doentes e depois assisti-los, segundo as suas necessidades e ter uma relação mais personalizada com os doentes. Isso exige tempo e é natural que tenhamos dificuldade em assistir a todos. Existe um capelão para 400 camas. Temos de encontrar outros modelos.” Sublinha que os capelães se sentem muitas vezes bombeiros a tentar dominar vários fogos.

À margem da conferência sobre “cuidados de saúde e espiritualidade” disse que faltam meios e espaços para apoio espiritual de todas as religiões, falta também ainda sensibilidade dos profissionais, muitos deles, ainda descrentes entre a relação espiritual/saúde, acrescenta. “A mudança não passa apenas por mais gente, passa sim pelo reconhecimento da assistência religiosa no bem-estar das pessoas para a saúde. Temos uma revolução cultural a fazer. Ao nível cultural e profissional há preconceitos entre a vivência da espiritualidade e a saúde”, garante.

O padre diz que “em primeiro lugar é preciso rever o Estatuto do Assistente Espiritual, que não existe sequer! Em segundo lugar regulamentar as nomeações e as acreditações. É tudo muito arbitrário. Não há modelo e isso gera empecilhos que fazem com que haja doentes que não são atendidos.” Diz ainda que, por isso, a assistência espiritual acaba por não funcionar da mesma forma de norte a sul do país.

A espiritualidade é “um conforto que ajuda o doente a sentir-se amado”. Lembrando que há muitos casos em que a espiritualidade fica esquecida, mas em situações de aflição “os doentes recorrem de novo à fé” e isso “tem efeitos clínicos muitas vezes comprovados”.

Também nos cursos de medicina há mudanças necessárias e dá o exemplo dos estados Unidos que ‘introduziram o estudo das religiões nas faculdades de medicina porque verificaram que a atenção à espiritualidade do doente os ajudava a aderir à própria terapêutica. Se os doentes percebessem que o médico era crente, e da sua religião, ainda mais aderiam. As universidades Americanas estão a fazer isso para que os profissionais compreendam mais os doentes e haja uma melhor colaboração com eles’, relata.

Fernando Sampaio revela ainda que muitos doentes se questionam sobre o porquê da sua doença e do seu sofrimento. “Que mal fiz eu? Não merecia isto. Nunca fiz mal a ninguém!”. O assistente religioso afirma que a dor interna de algumas pessoa é “tremenda” e sentem, por isso, “necessidade de reconciliação; de ter um sentido para o dia a dia; de se sentirem amados e de darem um sentido à vida e à morte”, recordando que já há provas vivas de que a fé e a espiritualidade podem ajudar muito na doença.

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