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Ataque em Londres. Pai pede para Boris Johnson não usar morte do filho em campanha

02 dez, 2019 - 19:56 • João Pedro Barros

Em carta publicada no “The Guardian”, Dave Merritt deixa críticas a uma alegada “agenda de ódio”. O primeiro-ministro britânico defende penas mais severas no país, após se ter ficado a saber que o autor do ataque tinha saído em liberdade condicional após cumprir parte da pena.

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“O Jack ficaria furioso ao saber que a sua morte tem sido usada para alimentar uma agenda de ódio”. Esta é uma das frases fortes de uma carta escrita por Dave Merritt, pai de uma das vítimas do ataque na Ponte de Londres, e que foi publicada esta segunda-feira pelo “The Guardian”. A reação é particularmente dirigida ao primeiro-ministro Boris Johnson.

Jack Merritt, de 25 anos, defendia um país “onde não há penas perpétuas” e onde “os orçamentos das prisões não são cortados” e o foco está “na reabilitação e não na vingança”, pode ler-se.

“Onde não enfraquecemos consistentemente os nossos serviços públicos, a tábua de salvação da nossa nação. O Jack acreditava na bondade natural da humanidade e sentia uma profunda responsabilidade social para a proteger. Através de todos nós, o Jack continua a caminhar”, escreve Dave Merritt.

Jack Merritt, que foi esfaqueado até à morte esta sexta-feira, era natural de Cambridge e licenciado em Direito e Criminologia. Foi coordenador, na Universidade de Cambridge, do programa de reabilitação prisional “Learning together” ("Aprendendo juntos", em tradução livre), que oferece a estudantes e detidos a oportunidade de estudarem juntos e assim reduzir a reincidência.

“Ao contrário de muitos de nós, Jack não ia apenas trabalhar. Ele vivia e respirava paixão na sua procura de um mundo melhor para toda a humanidade, especialmente para aqueles que tinham mais carências”, resume Dave Merritt.

Johnson diz ser contra libertações antecipadas há “muitos anos”

O atacante da Ponte de Londres foi identificado como Usman Khan, de 28 anos, que fora condenado em 2012, por ter estado envolvido no planeamento de um ataque à Bolsa de Londres, inspirado pela Al-Qaeda. Saiu da prisão em dezembro de 2018, em liberdade condicional, após ter cumprido cerca de seis anos de uma pena de 16. Utilizando um falso colete bombista, atacou com uma faca cinco pessoas que o tentaram travar, tendo duas delas falecido.

Boris Johnson, em plena campanha para as eleições gerais de 12 de dezembro, criticou as leis que permitiram a Usman Khan sair da prisão, responsabilizando o Partido Trabalhista. “A razão para este assassino estar à solta nas ruas é uma lei de liberdade condicional que foi concebida por um governo esquerdista”, acusou, em entrevista à BBC. Se for eleito, promete alterar essa lei: “Este sistema tem de acabar - repito, tem de acabar”.

Numa reação às críticas de Dave Merritt, à agência AP, Johnson negou estar a fazer aproveitamento eleitoral do ataque. “Fiz campanha contra a liberdade condicional há muitos anos, está no meu programa eleitoral para a Câmara de Londres em 2012. Temos muitas pessoas libertadas automaticamente para a rua e precisamos de tratar desse assunto”, respondeu.

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