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Morte de jornalista. Primeiro-ministo de Malta vai apresentar demissão, avança jornal local

29 nov, 2019 - 13:34 • João Pedro Barros com agências

Possível saída do chefe de Governo está relacionada com a investigação ao homicídio da jornalista Daphne Caruana Galizia, em 2017.

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O primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, confidenciou a pessoas do seu círculo próximo que planeia demitir-se do cargo de imediato, avançou esta sexta-feira o "Times of Malta".

A decisão está relacionado com a crise política e legal decorrente da investigação ao homicídio da jornalista Daphne Caruana Galizia, acrescenta o mesmo jornal.

Muscat terá informado o Presidente George Vella, na manhã desta sexta-feira, das suas intenções. O chefe de Governo deve fazer uma comunicação ao país e iniciar-se-á um processo para escolher o novo líder do partido Trabalhista maltês.

Desconhece-se ainda se será o vice-primeiro-ministro Chris Fearne a assumir temporariamente o cargo. Muscat - primeiro-ministro desde 2013 - já afirmou publicamente que não se irá recandidatar ao cargo.

A semana negra de Muscat

O ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro. Keith Schembri, foi detido na manhã de terça-feira e libertado na quinta-feira. A par dele, foi também detido Adrian Vela, médico pessoal do empresário Yorgen Fenech, preso na semana passada a bordo do seu iate quando tentava fugir do país. Fenech é acusado de ter instigado o assassínio da jornalista de investigação.

Caruana Galizia, que investigava a corrupção nas altas esferas da política e dos negócios em Malta, foi assassinada aos 53 anos com uma bomba colocada na sua viatura, a 16 de outubro de 2017.

A crise política agravou-se no mesmo dia, com a demissão de dois ministros do Governo trabalhista horas após o primeiro-ministro anunciar a renúncia do seu chefe de gabinete.

Os dois governantes em causa são o ministro do Turismo, Conrad Mizzi, e o titular da Economia, Chris Cardona, que garantiu que se "autossuspendia" de funções até à conclusão das investigações sobre o crime.

Face aos desenvolvimentos, centenas de pessoas concentraram-se frente ao Parlamento em La Valetta, gritando "vergonha" e "assassinos" e com cartazes como "Joseph (Muscat), és o próximo".

A multidão, que lançou ovos e moedas contra diversos veículos oficiais quando abandonavam o edifício, também entoou "Daphne tinha razão".

O que relaciona Muscat com a morte de Caruana Galizia?

Na terça-feira, Joseph Muscat admitiu novas consequências da investigação. "Demito-me se existir alguma forma de relação entre mim e o assassínio", apesar de insistir que "nunca" fez "vista grossa" perante a corrupção, afirmou na ocasião.

O ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro foi acusado de corrupção pela própria Caruana Galizia e, segundo fontes citadas pelo "Times of Malta", o empresário Yorgen Fenech voltou a relacioná-lo após a sua detenção com casos de corrupção e com este assassínio.

Por sua vez, Fenech é um dos mais importantes empresários do país insular, dono do fundo secreto do Dubai "17 Black" e acionista da companhia da central elétrica Electrogas, que foi mencionada nos "Papéis do Panamá" como o veículo para depositar fundos em empresas secretas desse país e propriedade de Mizzi e Schembri.

Um dia antes da detenção de Fenech, o primeiro-ministro ofereceu o indulto presidencial a um suposto intermediário no assassínio da jornalista, mais tarde identificado como Melvin Theuma, em troca da sua colaboração com as autoridades.

Apesar de o primeiro-ministro ter oferecido um milhão de euros por informações sobre o atentado, numa tentativa de apaziguar o escândalo, os filhos da jornalista, Matthew, Andrew e Paul, teceram fortes acusações ao Governo de Malta e definiram o país como "mafioso".

Exigiram ainda a demissão de Muscat e de outros altos responsáveis do Estado, considerando-os responsáveis pela impunidade que, na sua perspetiva, tem reinado perante o crime e as irregularidades.

[Notícia atualizada às 14h15]

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