27 nov, 2019 - 00:13 • Redação com agências
Um cenário de protestos violentos no Brasil pode levar ao regresso da ditadura. A frase do ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, está a causar polémica no país.
As declarações do ministro do governo do Presidente Jair Bolsonaro foram proferidas em Washington, na segunda-feira. Paulo Guedes comentava as manifestações em países sul-americanos, como Chile, Equador ou Bolívia.
O governante defende que a democracia brasileira “nunca foi tão forte”, mas a oposição de esquerda deve ser responsável e não incentivar a população a realizar protestos violentos.
Se isso acontecer, disse Paulo Guedes, “não se assustem se alguém pedir o AI-5”, numa referência ao decreto que instaurou uma ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, suspendeu o Congresso e perseguiu os dissidentes.
As declarações são proferidas semanas depois da libertação de Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil e líder histórico do Partido dos Trabalhadores, que foi condenado por corrupção.
“Vamos ser claros, se há um partido que defende a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores (PT). Não fomos nós que elegemos um Presidente que acha a democracia repugnante”, atirou Lula da Silva.
Noutra reação às palavras do ministro de Bolsonaro, o antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso disse à BBC que invocar o artigo AI-5 é um ataque à democracia.
“Eu acho deplorável que alguém fale do AI-5 como se fosse algo trivial. Não foi, foi grave, feriu a democracia. Conseguimos restaurar a democracia no Brasil e lutamos para a preservar”, afirmou Fernando Henrique Cardoso.
O presidente do Supremo Tribunal, Dias Toffoli, considera que o AI-5 é “incompatível com a democracia” e o presidente da câmara baixa do Parlamento, Rodrigo Maia, considera que a sugestão do ministro da Economia levanta dúvidas sobre as intenções democráticas de Jair Bolsonaro.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa, pediu aos procuradores federais uma investigação às declarações do ministro Paulo Guedes, que consideram serem um “ataque à democracia que não pode passar sem castigo”.
Paulo Guedes tentou fazer controlo de danos, dizendo que fez comentários “off the record”. Depois, tentou clarificar a sua posição, garantindo que não haverá qualquer retrocesso democrático nem regresso à ditadura no Brasil.
Em outubro, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente Jair Bolsonaro, já tinha sugerido o regresso da ditadura em caso de uma radicalização da esquerda.