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Ribeiro Cristovão
Opinião de Ribeiro Cristovão
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​Honra ao mérito

25 nov, 2019 • Opinião de Ribeiro Cristovão


Jorge Jesus é, desde o último sábado, verdadeiro herói nacional.

Trata-se de uma ideia que parece ter à sua volta amplo consenso, tais foram os ecos escutados por esse país fora, logo que terminou a final da Taça Libertadores ganha pelo Flamengo, com o português Jorge Jesus como seu grande timoneiro.

Ao apostar no futebol do Brasil, Jorge Jesus jogou uma cartada de alto risco e a razão era simples: há muitos anos que naquele país sul-americano o futebol vive num circuito muito fechado, que não tem permitido a intromissão de elementos vindos de fora.

Sobretudo no que toca aos treinadores, que se têm julgado os maiores detentores da ciência mundial, o número das primeiras figuras é escasso, mas estas têm mantido uma rotatividade que lhes permite exercer funções no mesmo clube por três e quatro vezes, sem que seja possível inventar alternativas.

Na altura em que Jorge Jesus resolveu rumar a terras de Santa Cruz a decisão foi julgada arrojada, pensando-se que iria meter-se na boca do lobo, tanto mais que, para além da oposição dos seus colegas brasileiros, o treinador português poderia contar também com uma crítica impiedosa, por, também ela, não estar de acordo com a intromissão de estrangeiros num país que eles próprios consideram, indevidamente, o inventor do futebol.

Só que Jorge Jesus trocou as voltas aos seus detractores. E, mercê de um trabalho persistente e de elevada qualidade que, convém acentuar, teve a necessária correspondência dos seus jogadores, levou o maior clube do Brasil de regresso à conquista de um título que não ganhava há trinta e oito anos. E, como se não bastasse, ontem bateu-lhe à porta mais um êxito, tendo chegado a campeão do Brasileirão, quando ainda ficam quatro jornadas para se cumprir todo o calendário.

Por tudo isto é fácil aceitar que Jorge Jesus se tornou uma figura mundial do futebol, cujo futuro é, a partir de agora, uma incógnita ainda mais acentuada do que era até aqui.

Jorge Jesus não fez sempre tudo bem ao longo da carreira, e algumas das suas escolhas nem sempre terão sido as mais corretas, mas o seu mérito é inquestionável.

Merece por isso reconhecimento unânime dos portugueses, que lhe ficam a dever este serviço inestimável.

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