23 nov, 2019 - 11:30 • Redação com Lusa
A população de Sines, no litoral alentejano, está alarmada com o aumento de cães vadios a vaguear pelas ruas da cidade, obrigando o município a criar um centro de recolha para tentar travar o fenómeno.
“Existem várias matilhas que estão mais ou menos identificadas, algumas com cerca de 30 cães. Como as cadelas não são esterilizadas, de três em três meses surgem entre 20 e 30 cachorros”, explica Alexandra Bento, presidente da 4 Patas, associação de defesa dos animais em Sines (distrito de Setúbal).
Juntamente com alguns voluntários e duas cuidadoras, a responsável dedica parte dos seus dias a tentar ajudar "os cerca de 180 cães de rua" contabilizados pela associação, que todos os anos gasta perto de 10 mil euros em clínicas e medicamentos para auxiliar os animais.
“O nosso dia a dia passa por ajudar estes animais, resgatá-los quando estão feridos e tentar arranjar donos para os bebés. Muitas vezes não é possível, porque, a partir dos três ou quatro meses, já se sabem defender, tornando-se muito difícil o seu resgate”, conta.
Os animais “são alimentados diariamente por cuidadoras”, duas idosas, de 70 anos, que recebem os alimentos fornecidos pela associação para “os cães que se encontram junto a pequenos abrigos”.
Construídos pelas voluntárias, a maioria em cartão e paletes, os abrigos servem “para os proteger da chuva e do frio” e tornam-se em casas permanentes para as matilhas, que reconhecem as cuidadoras e toleram as suas visitas diárias em troca de comida e água.
Mas estes locais podem tornar-se num problema de saúde pública e, por isso, a responsável defende alterações ao nível da legislação para que “seja autorizada a esterilização das cadelas de rua” e para impedir que “as matilhas continuem a crescer”.
Sem um canil, os animais errantes juntam-se em grupos, em torno das grandes superfícies comerciais, em bairros, jardins e arredores da cidade e não passam despercebidos à maioria das pessoas, que temem ataques.
“Há, por vezes, pessoas que são atacadas”, reconhece à Lusa o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, alegando ter ‘herdado’ um problema que se arrasta há muitos anos, desde o encerramento do único canil que existia no concelho.
A agência Lusa solicitou junto das autoridades mais informações referentes a possíveis queixas de ataques de cães na via pública, mas sem sucesso.
Só este ano, foram recolhidos um total de 70 cães na cidade de Sines e “grande parte deles foram dados para adoção”, explica o presidente do município, que avançou este ano com a construção de um Centro de Recolha Oficial (CRO) de Animais com capacidade para 22 'boxes'.
“A câmara tenta recolher os cães e encontrar locais em unidades privadas [hotel canino], pagando para deixar os animais, mas recentemente decidimos avançar com a obra do CRO, que prevemos estar concluída em 2020 para dar resposta a estas necessidades”, adianta o autarca.
Esta “resposta muito mais rápida” é aplaudida pela associação de defesa dos animais de Sines, mas “não chega” para “comportar o número de cães vadios que existem atualmente na cidade” e que, segundo Alexandra Bento, “tem vindo a agravar-se com o aumento do abandono de cães de companhia”.
“A câmara resgata esses animais, que são os mais perigosos, porque não sabem andar na rua, para umas 'boxes' provisórias, que estão cheias. Por isso, a obra do CRO é bem-vinda, mas seria essencial não só para Sines como para todo o país que fosse permitido esterilizar as cadelas de rua ou que se avançasse com a construção de 'espaços matilha'", defende a responsável.
Segundo o presidente da câmara, o centro de recolha, num investimento de 197 mil euros, “será apenas uma zona de passagem” para um grande número destes animais de rua, uma vez que está prevista a construção de um canil intermunicipal para "minimizar este problema".
“Os cinco municípios do litoral alentejano (Sines, Santiago do Cacém, Grândola, Alcácer do Sal e Odemira) decidiram construir um canil intermunicipal, em Santiago do Cacém, projeto que está numa fase bastante adiantada e que dará uma resposta suficiente para os problemas que temos tido nesta região”, diz.
Em 2016 entrou em vigor a lei que estabelece a proibição do abate de animais errantes como forma de controlo da população. A lei prevê também medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais e responsabiliza os organismos da administração central do Estado pela proteção, bem-estar e sanidade animal.
Em 2017, foi estabelecido o estatuto jurídico dos animais, no qual passou a ser reconhecido que “os animais são seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza“, e prevê que o dono de um animal deva assegurar o seu bem-estar, a garantia de acesso a água e alimentação, bem como a cuidados médico-veterinários sempre que justificado, incluindo as medidas profiláticas, de identificação e de vacinação previstas na lei.