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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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A nostalgia do domínio europeu

22 nov, 2019 • Opinião de João Ferreira do Amaral


O domínio europeu esteve longe de ser um abraço amigo dado às outras civilizações.

Muitos de nós não conseguem enfrentar as realidades no que se refere ao papel da Europa no mundo. Talvez, por isso, seja útil olharmos para a História, em particular para a dos últimos 500 anos.

Até ao século XVI, a Europa ou qualquer dos seus países estiveram muito longe de serem potências dominantes ou sequer especialmente influentes no mundo. Mesmo nas suas horas de maior poderio, o império de Alexandre ou o império romano não dominaram a maior parte da Ásia, para já não falar da África ao sul do Sara ou da América, então desconhecida dos outros continentes.

A partir das descobertas portuguesas, a Europa - protagonizada sucessivamente por vários países, por mar, por Portugal, Espanha, Holanda e principalmente a Inglaterra e, por terra, pela Rússia, já no século XVII avançando pela Sibéria - acabou por dominar efectivamente grande parte do mundo.

Passados quase 500 anos, tudo desabou. Desde o final da II Guerra Mundial, a Inglaterra começou a desfazer-se do seu império assim como os outros países dos respectivos impérios de menor dimensão e, a partir dos anos oitenta, a globalização, liderada pela China, encarregou-se de dar o golpe de misericórdia no papel que a os países europeus tinam desempenhado desde o século XVI.

Em minha opinião, nenhum mal há nisto. O domínio europeu esteve longe de ser um abraço amigo dado às outras civilizações. Sem esquecer, embora, os aspectos positivos que permitiram o vertiginoso progresso económico da Humanidade, a verdade é que a pilhagem dos recursos dos territórios submetidos foi de tal ordem que excedeu qualquer precedente histórico e a humilhação que os povos receberam do racismo (uma invenção europeia) e da brutalidade dos seus dominadores europeus não será facilmente esquecida.

Por isso, não me causa grande nostalgia revisitar esse passado. E, principalmente, o que não faz nenhum sentido é pensar, como alguns pensam ao abordar o futuro da União Europeia, que a Europa poderá voltar a ser uma potência dominante no mundo. Percebo que para um país grande (à medida da Europa) não seja fácil admitir que o seu estatuto mundial não poderá voltar a ser o que era. Mas para um português, cujo momento de glória do seu país na cena mundial foi fugaz, nenhuma dificuldade há em viver sem megalomanias. E, principalmente, sem fazer nossas as dores dos que querem pôr a União ao serviço de uma ideia que vem muitas décadas atrasada.

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