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​Exposição "Apostolados" no Museu Nacional de Arte Antiga

21 nov, 2019 - 02:05 • Lusa

Obras de Francisco de Zurbarán e José Maria Cano para ver em Lisboa.

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A exposição "Apostolados" coloca em diálogo as obras do espanhol Francisco de Zurbarán, do século XVII, e a criação contemporânea de José María Cano, a partir de quinta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

Em comum têm o tema das figuras dos apóstolos que seguiram e divulgaram os ensinamentos de Jesus, nas telas antigas, pintados de corpo inteiro, pertencentes ao MNAA, e nas contemporâneas, criadas nos últimos quatro anos por José Maria Cano.

"Este tema é o resultado de uma busca interior, espiritual, do artista, que projetou no rosto de 12 pessoas comuns a vida dos apóstolos, marcada pela perseguição e a fé", explicou à agência Lusa a curadora, Rosa Martínez, durante uma visita guiada.

"Apostolados. Pedes in terra ad sidera visus" ("Os pés na terra, o olhar no céu", em latim) coloca, na mesma sala, de um lado, as telas que representam nove apóstolos, pintadas em 1633 por Francisco de Zurbarán (1598-1664) e 12 de José María Cano, nascido em Madrid, em 1959.

A série de retratos de corpo inteiro foi realizada na oficina de Francisco de Zurbarán, que assinou e datou o painel com a figura de São Pedro.

De acordo com o museu, não existe documentação sobre a possível encomenda do rei Filipe IV de Espanha (III de Portugal) para o antigo mosteiro de São Vicente de Fora, mas ali foram instalados os quadros até passarem a fazer parte da coleção permanente do MNAA, em 1913, onde ainda hoje se conservam.

"Zurbarán fascinou muitos artistas, nomeadamente os cubistas", comentou Rosa Martínez sobre a produção deste artista que criou aquele conjunto, na época, em resposta a uma encomenda eclesiástica, e continua a ser alvo de interesse de criadores contemporâneos.

No caso de José María Cano, foi desejo do próprio artista o aprofundamento do significado moral e espiritual que estas figuras tiveram, e ainda podem ter na atualidade.

"Apostolo significa mensageiro, e o artista quis criar um jogo, uma nova constelação, na qual a figura central é São João", apontou a especialista.

Rosa Martínez foi a primeira mulher a ser convidada para dirigir a Bienal Internacional de Arte de Veneza, em 2005, onde convidou a artista portuguesa Joana Vasconcelos a apresentar a sua emblemática obra "A Noiva", criada com tampões íntimos femininos.

Para esta exposição, José María Cano - que, apesar de estar presente, preferiu que fosse a curadora a falar da sua obra - criou os 12 retratos em várias fases entre 2015 e 2019, e o conjunto foi exposto mundialmente, pela primeira vez, este ano, numa exposição individual no San Diego Museum of Art, nos Estados Unidos, no âmbito da mostra "Art and Empire: The Golden Age of Spain" ("Arte e Império. O Século de Ouro em Espanha", em inglês), de onde veio diretamente para Lisboa.

O artista usa nestas obras a técnica encáustica (palavra que deriva do grego ´enkausticos´, gravar a fogo), caracterizada pelo uso da cera como aglutinante dos pigmentos e pela mistura densa e cremosa.

Trata-se de uma técnica que concede um brilho intenso às imagens, e já era usada pelos romanos e os gregos devido à sua resistência.

O subtítulo da exposição, "Pedes in terra ad sidera visus", alude à "necessidade de conjugar materialidade e espiritualidade para dar sentido à consciência transcendente que nos eleva para além do nosso mundo físico".

As obras em diálogo colocam em evidência a correspondência entre duas épocas de crise, fala do sofrimento como processo de purificação e "mostra como a formalização artística que explora o pathos das tipologias humanas estimula as catarses que ajudam a converter as nossas obscuridades em luz".

José María Cano é músico, compositor, diretor de orquestra e artista visual. De 1981 a 1998 fez parte do conjunto Mecano, que fundou com o irmão, Nacho, e com Ana Torroja, mas que acabou por abandonar para se dedicar às artes visuais como meio de expressão artística.

A exposição vai ser inaugurada na quinta-feira, às 18h00, ficando patente no MNAA até 12 de janeiro de 2020.

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