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Cientistas portugueses atacam bactéria em tempo recorde em simulacro de surto

18 nov, 2019 - 17:56 • Agência Lusa

Em 2015, morriam mais pessoas por infeções contraídas nos hospitais do que em acidentes de aviação. Avanços científicos como este têm permitido uma redução significativa do número de mortes devido a surtos deste tipo.

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Uma equipa de três investigadores portugueses conseguiu detetar, fazer o retrato genético de uma bactéria e determinar a melhor forma de a combater em tempo recorde, num simulacro de surto num hospital.

As equipas do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa, Instituto Gulbenkian de Ciência e Instituto de Medicina Molecular trabalharam articuladas e em horários alargados para "rentabilizar tempo e tecnologia", disse à agência Lusa uma das responsáveis do estudo, Raquel Sá-Leão.

Inicialmente, o prazo previsto foi de oito dias, mas tudo ficou pronto em seis, desde a recolha das amostras à sua sequenciação, trabalhando num registo "o mais real possível" dentro da simulação, cujo cenário era um pedido feito por hospital fictício a braços com uma infeção por uma bactéria desconhecida.

Este período "seria o ideal desejável" para lidar com uma situação do género, disse Raquel Sá-Leão, acrescentando que um dos objetivos do estudo é mostrar que com a tecnologia e os recursos humanos suficientes, a análise genética é a melhor forma de iniciar o combate a bactérias que podem atacar hospitais.

Os investigadores usaram amostras previamente recolhidas e armazenadas de uma bactéria resistente a vários antibióticos, a "Klebsiella pneumoniae", como se fossem provenientes de doentes, e outras amostras ambientais recolhidas em lavatórios e ralos de lavatórios.

Seguiu-se a sequenciação do genoma da bactéria responsável pelo surto simulado, um processo que pode demorar "várias semanas" mas que foi conseguido usando "técnicas avançadas" que são caras mas que, defende a microbióloga da Universidade Nova, acabam por compensar porque "salvam vidas" e evitam os custos de ter que tratar vários doentes críticos que possam ser infetados por bactérias como a analisada, em expansão na Europa.

Segundo um relatório oficial publicado, em 2016, pela Direção-Geral de Saúde (DGS), as mortes associadas a infeções contraídas durante os internamentos nos hospitais eram, em média, sete vezes superiores às causadas por acidentes de viação, mas estes números têm vindo a decrescer nos últimos anos.

Pelo Instituto Gulbenkian, cujos investigadores fizeram a sequenciação, Ricardo Leite disse à Lusa que conhecido o retrato genético de uma bactéria detetada em ambiente hospitalar, é possível chegar ao melhor tratamento, importante quando se trata de um organismo que resiste a vários tipos diferentes de antibiótico.

Os resultados do estudo de Raquel Sá Leão, Maria Miragaia e Ricardo Leite, que decorreu durante a semana passada no âmbito do projeto ONEIDA, da Universidade Nova, são conhecidos no Dia Europeu dos Antibióticos e vão ser divulgados primeiro pelos congressos europeus da especialidade e deverão ser publicados numa revista científica portuguesa no ano que vem.

O projeto ONEIDA, financiado com fundos europeus e nacionais, conta com cerca de 100 investigadores.

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