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"Melancolia, Amor e Cartas"

Congresso assinala 350 anos das Cartas de Mariana Alcoforado

14 nov, 2019 - 14:50 • Rosário Silva

A primeira edição das "Cartas Portuguesas" saiu a 4 de Janeiro de 1669, em França. Três séculos e meio depois, Beja acolhe um congresso internacional para evocar a história de amor protagonizada pela freira que viveu toda a sua vida num convento da cidade alentejana.

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Paris, 1810. O jornal "L’Empire", através do erudito Boissonade, traz para a ribalta o nome, até então incógnito, de Mariana Alcoforado. Era apontada como a autora das já muito célebres "Lettres Portugaises", as cinco cartas de amor dedicadas ao cavaleiro francês Noël Bouton, Marquês de Chamilly.

Mariana Alcoforado, natural de Beja, fora uma das religiosas, da Ordem de Santa Clara, do Convento da Conceição, nessa cidade, local onde hoje funciona o Museu Regional da capital do Baixo Alentejo.

Para assinalar os 350 anos da publicação das cartas, que se acredita terem sido escritas pela religiosa portuguesa, meia centena de investigadores - portugueses e estrangeiros - reúnem-se em Beja, entre de sxta-feira a domingo, para um congresso internacional que, contudo, arranca em Lisboa e se propõe aprofundar estudos já realizados e lançar novos trabalhos sobre a clarissa bejense e o mundo baroco em que viveu.

A organização pertence à Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com a Universidade de Massachusetts e com a Câmara de Beja,

“Três séculos e meio após da vinda a público de um dos textos mais influentes da cultura ocidental, o apelo das famosas Cartas permanece irresistível: o epistolário da freira de Beja, com a sua impetuosa escrita de amor e dor, suscitou e suscita sempre inúmeros debates, ensaios, teses de doutoramento, recriações literárias novelísticas, poéticas e teatrais, obras pictóricas, plásticas e musicais, figurando de forma preeminente no imaginário português e estrangeiro”, sublinham os promotores, na nota de apresentação do evento.

“Melancholy, Love and Letters”, (Melancolia, Amor e Cartas) dá mote ao congresso que arranca, em Lisboa, esta sexta-feira, na Biblioteca Nacional, com uma visita guiada à exposição bibliográfica sobre as “Lettres Portugaises”, preparada para o evento.

No sábado e domingo, já no Alentejo, além das dezenas de comunicações, o programa oferece, entre outras iniciativas, três visitas guiadas, seis homenagens (Mariana Alcoforado, Noël Bouton, Luciano Cordeiro, Florbela Espanca, Luís Amaro e Leonel Borrela), o lançamento de quatro livros (Vitor Amaral de Oliveira, Miguel Borrela, Patrícia Tavares de Azevedo e Paulo Monteiro) e um concerto de música sacra e profana, pelo Coro do Carmo de Beja, dirigido pelo padre António Cartageno.

Natural de Beja, Mariana Alcoforado, nasceu a 22 de abril de 1640, tendo entrado na clausura com apenas 11 anos. Professou aos 16. Durante a sua longa vida conventual, foi porteira, escrivã e vigária. Faleceu em 28 de julho de 1723.

O Museu Regional de Beja conserva ainda a grande janela gradeada, mais conhecida como "Janela de Mértola", das Portas de Mértola ou de Mariana, verdadeiro ex-libris do convento, do museu e da cidade, através da qual a religiosa viu muitas vezes passar aquele que lhe arrebatou o coração, o marquês Chamilly, oficial francês que passou por Portugal durante a guerra da Restauração e o destinatário das cartas.

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