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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Tempos difíceis em Espanha

12 nov, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Com as eleições de domingo, a bloqueada situação política espanhola ficou ainda mais difícil de ultrapassar. Mas apostar em novas eleições seria um erro trágico.

Por muito que o resultado das eleições em Espanha tenha dificultado, ainda mais, a formação de um governo com alguma estabilidade, creio que ninguém aceitaria novas eleições a curto prazo. Continuar a multiplicação de atos eleitorais sem que surja uma maioria que possa formar governo seria dar um golpe profundo na credibilidade da democracia espanhola.

Ou seja, os políticos e os partidos espanhóis são agora forçados a entenderem-se. Por isso terão de colocar em segundo lugar os interesses táticos partidários e dar prioridade a uma visão a longo prazo do interesse do Estado espanhol. Terão de ser estadistas e não políticos oportunistas.

Veja-se o caso do “Ciudadanos”, um partido que nasceu na Catalunha para combater o independentismo e rapidamente se tornou uma força política moderada em toda a Espanha. Só que, a certa altura, Albert Rivera, o líder do partido até ontem, abandonou a posição centrista do “Ciudadanos” e ambicionou liderar toda a direita.

Falhou, inclusivamente ao aceitar aproximar-se do neo-franquista Vox, de extrema-direita (PP e “Ciudadanos” governam na autonomia andaluza com o apoio do Vox). No domingo o “Ciudadanos” foi castigado nas urnas, passando de 57 para apenas dez deputados nas Cortes de Madrid. Albert Rivera demitiu-se e abandona a política. É uma saída de cena honrosa, mas fica a sensação de uma grande oportunidade perdida.

A subida fulgurante do Vox, de extrema-direita, irá tornar muito complicado um princípio de solução para a Catalunha. Pois se o partido quer acabar com as autonomias, como poderá ele aceitar um caminho no sentido federal de Espanha? Ora a substituição do sistema das autonomias por um autêntico Estado federal, como existe na Alemanha Federal, parece ser a única maneira de manter a Espanha unida, respeitando as características específicas das várias nações que a constituem.

Neste ambiente carregado, a eleição dos deputados de Catalunha trouxe uma luzinha de esperança. É que aí, entre os independentistas, prevaleceu a Esquerda Republicana, partidária do diálogo com Madrid, e perderam os defensores de uma independência unilateral, como Puigdemont ou Quim Torra. Infelizmente, com vários dirigentes seus condenados e na prisão, não parece provável que a Esquerda Republicana da Catalunha esteja disponível para negociar.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

Comentários
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  • António Silva
    12 nov, 2019 20:20
    O que se passa em Espanha é sempre importante para Portugal. Para o bem e para o mal. Basta recordar que somos o único país da Europa, segundo julgo, com uma única fronteira terrestre internacional . No caso, precisamente com Espanha.
  • Chega de ruído!
    12 nov, 2019 LX 11:23
    E se falassem no que é importante! Não percebo o que temos a ver com a escolha democrática dos espanhóis? Não há nada aqui para comentar, há apenas factos. Falar no insignificante gera ruído!