11 nov, 2019
No terceiro trimestre deste ano as importações cresceram cinco vezes mais do que as exportações. Esta informação do Instituto Nacional de Estatística, que mostra as importações a aumentarem 6,3%, enquanto a subida das exportações se ficou pelos 1,2%, deve ser encarada como um alerta: vamos regressar aos défices externos que estiveram na origem da quase bancarrota portuguesa de 2011?
Estes números dizem respeito à balança comercial de mercadorias – não envolvem, assim, os serviços, onde está o turismo. O problema é que as receitas do turismo estrangeiro em Portugal, que têm subido, mesmo assim são insuficientes para cobrir o défice da balança comercial de bens.
O excelente e algo inesperado bom comportamento das exportações de bens, nos anos recentes, está a ser travado pela degradação da conjuntura internacional. O protecionismo de Trump, as incertezas do Brexit e as hesitações alemãs quanto ao relançamento da economia da RFA, a par com a ascensão dos populismos nacionalistas (que afeta, por exemplo, o mercado espanhol) não favorecem as exportações portuguesas. Além de que o “boom” do turismo estrangeiro em Portugal não é garantido que dure sempre.
Estas contrariedades não são uma surpresa. Em junho passado o Banco de Portugal afirmou que, no ano corrente, se iria interromper o ciclo de saldos positivos na balança de bens e serviços, iniciado em 2012. E fez um aviso: “esta evolução exige uma atenção particular, uma vez que o endividamento externo da economia portuguesa permanece num nível elevado e constitui uma das suas principais vulnerabilidades latentes”.
Dir-se-á que a subida das importações se fica a dever ao aumento do investimento. Em parte, naturalmente que sim. Mas muito do investimento que urge fazer em Portugal, hoje, não irá refletir-se diretamente em estímulo exportador. Basta pensar, por exemplo, nas importações necessárias à modernização ferroviária em material circulante e renovação da via.
Entre nós é preponderante a tendência para ignorar o défice externo. Já foi assim na crise que trouxe a “troika”, apesar de, nessa altura, o défice externo ultrapassar os 10% do PIB. Decerto que, agora, não chegámos aí. Seria, porém, prudente dedicar às contas externas a atenção que o Banco de Portugal solicitava há meio ano.