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Comissão Nacional Justiça e Paz

"Nunca tivemos tanta abundância, mas persistem os desequilíbrios sociais"

08 nov, 2019 - 15:20 • Ângela Roque

A realidade da pobreza vai estar em debate na conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz, este sábado, em Lisboa. Pedro Vaz Patto, presidente deste organismo da Igreja, diz à Renascença que "não esquecer os pobres é um teste à caridade e à coerência dos cristãos".

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"‘Com os Pobres" foi o tema escolhido para a conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), marcada para este sábado no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa. A iniciativa está relacionada com o Dia Mundial dos Pobres, que se assinala a 17 de novembro.

“É o terceiro ano que se celebra, por iniciativa do Papa Francisco, e a CNJP quis associar-se a esta celebração antecipadamente, refletindo sobre a mensagem do Papa para este dia” explica à Renascença o presidente deste organismo da Conferência Episcopal Portuguesa.

Pedro Vaz Patto lembra que na mensagem, o Papa “sublinha a necessidade de não se esquecer os pobres. Muitas vezes os pobres são invisíveis, são esquecidos, estão marginalizados mas, como diz o Papa, esta opção pelos últimos, o amor presencial pelos pobres, é uma prova real e um teste à caridade e à nossa coerência como cristãos”.

Para este responsável, o facto de a conferência se realizar dias depois de Lisboa ter acolhido a Web Summit revela “as contradições da nossa época”, em que “talvez nunca tenhamos experimentado tanta abundância de recursos, de bens, mas persistem os desequilíbrios sociais” e a pobreza.

Vaz Patto lembra que na mensagem o Papa “também lembra que se verifica em simultâneo um grande desenvolvimento e os desequilíbrios sociais e a pobreza, e que lhe parece que não aprendemos muito com a história. Portanto, o que queremos é que não fique esquecida esta outra realidade que continua, que se mantém, apesar dos grandes progressos tecnológicos que a nossa sociedade conhece”.

Na conferência vai falar-se da realidade da pobreza em Portugal e na Europa, com uma atenção especial para o fluxo migratório crescente.

“As migrações são uma forma muitas vezes de escapar à pobreza. Há várias motivações, mas a maior parte dos migrantes que vêm para a Europa vêm porque os países de origem conhecem a pobreza extrema. E um dos fenómenos que também se está a notar cá em Portugal é que estão a chegar pessoas de países mais longínquos, às vezes em redes organizadas e em condições que podem até levantar suspeitas de verdadeiro tráfico humano. Não podemos nem queremos esquecer esta realidade, que é também uma das faces da pobreza com que nos deparamos hoje”, sublinha Pedro Vaz Patto.

Mas será também dada atenção às “novas formas de pobreza”, e à necessidade da economia olhar mais para os aspetos sociais. “A nossa conferência tem várias dimensões, queremos refletir sobre o aspeto moral, teológico que o Papa salienta na sua mensagem, mas também a abordagem científica e económica desta realidade”.

Um dos oradores na conferência vai ser o cardeal arcebispo de Barcelona, Juan José Omella. “Já o tínhamos convidado noutras ocasiões, mas não pôde participar”, explica Pedro Vaz Patto, que se congratula com a sua presença. “Tem uma experiência muito rica, porque foi responsável da Pastoral Social da Conferência Episcopal Espanhola durante vários anos, e vem falar-nos sobre ‘A opção preferencial pelos pobres hoje na Europa’”.

"A pobreza: uma perspetiva económica" é o tema da intervenção de Joana Silva, da Universidade Católica Portuguesa. Pedro Góis, da Universidade de Coimbra, falará sobre "Migrações, pobreza e desenvolvimento", os Leigos para o Desenvolvimento apresentarão testemunhos sobre os "Rostos da Pobreza em África", e a Cáritas Diocesana de Beja sobre os "Rostos da pobreza entre os migrantes". O encerramento da conferência será feito por D. José Traquina, bispo de Santarém e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.

A conferência anual da CNJP vai decorrer no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, a partir das 10h de sábado, 9 de novembro. A entrada é livre.

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