08 nov, 2019
Na Web Summit, que ontem terminou, a Nokia anunciou que vai criar em Portugal um “centro de excelência” sobre tecnologias de informação, envolvendo a contratação de mais de cem profissionais, a juntar aos cerca de dois mil que a empresa já emprega no nosso país. O primeiro-ministro informou haver outras multinacionais a procurarem também a qualidade dos portugueses que atuam nestas áreas tecnológicas. Foi o talento disponível em Portugal que determinou a decisão da Nokia.
Oxalá se conformem essas iniciativas. É que um grave problema dos doutorados portugueses está em que nem o Estado nem as empresas os contratam em quantidade suficiente. Por isso muitos deles não têm outra saída que não seja emigrarem, pois aqui não encontram posições compatíveis com as suas habilitações.
Assim, e para além dos problemas pessoais que emigrar sempre coloca, o país desperdiça o investimento feito na formação desses doutorados. O Presidente do Instituto Superior Técnico, Prof. Arlindo Oliveira, chamou a atenção para este problema no “Público” da passada segunda-feira. Recorda ele que em 1970 houve em Portugal 60 doutoramentos; agora são cerca de três mil.
Doutorados a mais? Claro que não, responde o Prof A. Oliveira: apesar da subida, Portugal ainda tem menos de metade dos doutorados, relativamente ao número de adultos dos 25 aos 34 anos, que se registam em países como a Suécia, a Dinamarca ou a Holanda. Só que é muito fraca a procura nacional, pública e privada, de pessoas com esses graus académicos…
Esta situação enquadra-se no insuficiente investimento em ciência e tecnologia que é realizado em Portugal. Um outro professor e cientista, Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, lembrava ontem, também no “Público”, que o nosso “investimento em ciência e tecnologia em percentagem do PIB se mantém há anos em 1,3%, quando a média da União Europeia é 2,1%”.
A Web Summit, que ontem encerrou, e o investimento de multinacionais no país podem atenuar o desperdício de talento e de dinheiro que resulta da escassa procura, pública e privada, de pessoas doutoradas. Mas certamente não chegam: é preciso fazer mais.