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​Agentes da PSP acusados de agredir e cegar adepto do Boavista foram absolvidos

07 nov, 2019 - 18:26 • Lusa

O juiz criticou a "comunhão de esforços" entre os arguidos para "encobrir" a identidade dos agressores. A advogada do adepto agredido vai recorrer da absolvição.

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O Tribunal de Guimarães absolveu esta quinta-feira os 11 efetivos do Corpo de Intervenção da PSP acusados de agredir e cegar um adepto do Boavista naquela cidade, mas censurou fortemente o seu "corporativismo", que impediu a identificação dos agressores.

"Os autores das bárbaras agressões estão aqui nesta sala, disso não tenho dúvidas. Só não sei é quem foram ou se foram todos, porque ninguém os conseguiu identificar", referiu o juiz presidente, na leitura do acórdão.

O juiz criticou a "comunhão de esforços" entre os arguidos para "encobrir" a identidade dos agressores.

"Toda a gente sabe que vocês sabem quem é que fez aquilo", acrescentou, com críticas ao "corporativismo" que levou a que nenhum deles tivesse denunciado os autores da agressão.

Os arguidos não falaram em tribunal, mas antes, em sede de inquérito e do processo disciplinar interno de que foram alvo, disseram que não viram nada, não agrediram ninguém e não têm responsabilidade nenhuma no caso.

"Com que sentido de justiça declararam que não sabiam, que não viram? Como permitem que se faça isto, que se fechem no corporativismo?", disse ainda o juiz.

Lembrou que o adepto agredido "ficou em estado muito grave" e sublinhou que "o coração ainda dói mais" por as agressões terem partido da polícia e, concretamente, de um "corpo de elite".

No entanto, e por não ter conseguido provar o envolvimento dos 11 arguidos no caso, o tribunal optou pela absolvição.

"Era incapaz de condenar quando houvesse dúvidas de que um, ou até meio se isso fosse possível, está inocente", disse ainda.

O juiz aludiu ainda à "falha muito grave" que diz ser o facto de os agentes do Corpo de Intervenção não terem no seu fardamento qualquer elemento identificativo, nem que fosse apenas "um número".

Aquele corpo atua com viseira e com capacete, o que torna quase impossível identificá-los.

A advogada do adepto agredido, Andreia Miranda Silva, disse que vai recorrer da absolvição.

"O juiz disse, com todas as letras, que foram aqueles senhores. Por isso, não nos podemos confirmar com a absolvição, sobretudo quando em causa estão lesões tão graves", referiu.

Os arguidos eram acusados de ofensa à integridade física grave qualificada.

Um dos arguidos é Paulo Rodrigues, presidente da direção da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP).

Os factos remontam a 3 de outubro de 2014, aquando do jogo da 7.ª jornada da I Liga entre o Vitória de Guimarães e o Boavista.

A acusação, deduzida pelo Ministério Público, diz que os 11 arguidos tinham sido destacados, enquanto efetivos do Corpo de Intervenção da PSP do Porto, para, em Guimarães, zelar pelas questões de segurança colocadas pelo jogo.

Acrescenta que, à chegada dos autocarros que transportavam os adeptos do Boavista, um dos arguidos abordou um destes adeptos, instando-o a que se movimentasse para determinado local.

Como este não obedeceu de imediato, "derrubou-o ao solo, colocou-lhe um joelho por cima das costas e fê-lo permanecer deitado no solo de cara para baixo", refere.

Diz ainda que, de seguida, ele e outros dois arguidos "bateram no referido adepto, nomeadamente com cotoveladas, pontapés, socos e pancadas de cassetete, enquanto os demais arguidos os integraram no interior de um círculo que formaram e assim impediram que lhe fosse prestado socorro".

No julgamento, o adepto em causa, João Pedro Adrião, disse que, fruto das agressões que sofreu na cara, ficou sem um olho e que, por causa do que aconteceu, não mais conseguiu exercer a sua profissão de advogado.

Disse ainda que tinha casamento marcado para a semana seguinte e que, por causa das consequências das agressões, a cerimónia foi adiada e até hoje ainda não se concretizou

Não conseguiu, no entanto, identificar os agressores, já que estes usavam viseiras e capacetes.

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  • Paulo Trindade
    08 nov, 2019 Cahoeirasc 08:13
    Se a lei fosse mudada,se os agentes das forças policiais,tivessem outra formação se as chefias tivessem mais consciencia e humanismo,"talvez" situações como estas naõ acontecessem e não haveria perdas de tempo com julgamentos como este.Afinal este povo que se manifesta ou que se excede um pouco,como o adepto de um clube de futebol,agredido bárbaramente á frente do seu filho, não deve m nem podem ser tratados como se de terroristas fossem,......(acho eu)........
  • Isabel M. M.
    08 nov, 2019 Vila Nova de Gaia 00:40
    Custa imenso ler e/ou ouvir um acórdão como este. Sabe-se que houve crime, que o ou os agressores estão na sala mas não há como provar isso. Não só porque o seu fardamento permite que escondam a sua identidade e assim fazerem o que lhe apetecer fazer no momento, como também o corporativismo que lhes permite que cantem todos a uma só voz e no final ainda saiam a tocar viola. Sabemos que não são todos iguais aos que agrediram selvaticamente este adepto, mas sabemos que estes 11 agentes são, porque "tão ladrão é o que rouba como o que fica à porta à espreita". É sempre um lugar comum dizer isto, mas seria bom que pensassem como se iriam sentir se isto acontecesse a um familiar seu. Depois admiram-se quando se fala que as forças policiais portuguesas são das mais violentas da Europa. Pelo menos da Europa, porque se decidirem fazer um estudo a nível mundial, e com a capacidade que Portugal tem para ficar sempre entre os piores nestas coisas, é bem possível que fiquemos na linha da frente. Sim, porque na cauda da Europa (e provavelmente do mundo) só mesmo no que toca a coisas boas.

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