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Web Summit 2019

Juan Branco da WikiLeaks. "É uma vergonha Portugal ter permitido a detenção de Rui Pinto"

07 nov, 2019 - 15:22 • Manuela Pires

O advogado e consultor jurídico de Julian Assange e da WikiLeaks usou ainda o palco da Web Summit para tecer críticas aos jornalistas.

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O advogado e consultor jurídico de Julian Assange e da WikiLeaks, Juan Branco, usou o palco da Web Summit esta quinta-feira para criticar as autoridades portuguesas por terem permitido a detenção de Rui Pinto, o denunciante de corrupção no mundo no futebol que está atualmente a aguardar julgamento.

Numa conferência dedicada ao tema da transparência e corrupção, Juan Branco declarou que Rui Pinto "está preso apenas porque revelou informações, só isso, não desrespeitou ninguém".

Já em entrevista à Renascença, o advogado reforçou a mesma ideia, explicando que quis aproveitar a vinda a Lisboa para mostrar solidariedade para com Rui Pinto.

"É muito importante fazer chegar-lhe a mensagem de que o mundo inteiro está a pensar nele. Há uma solidariedade forte e reconhecimento pelo que ele tem feito. É uma vergonha extraordinária que as autoridades portuguesas tenham permitido a sua detenção."

O alegado "hacker" português foi detido a 16 de janeiro na Hungria ao abrigo de um mandado de captura europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). Foi extraditado para Lisboa na semana seguinte, acompanhado por elementos da Polícia Judiciária, e está preso desde então.

Para Branco, que trabalha como consultor jurídico para a organização de delatores WikiLeaks e para o seu fundador, o sistema tem apenas como objetivo desacreditar denunciantes como Assange e Rui Pinto, pessoas que "apenas decidem revelar informações depois de muita ponderação".

Em tom provocador, Juan Branco alarga as críticas aos jornalistas, por estarem "prisioneiros das fontes e dos poderes instalados". Também garante que a WikiLeaks continua a ser o único meio de comunicação que não dá notícias falsas, porque "inventou um novo modelo de jornalismo para tratar milhões de documentos", o que Branco chama de "jornalismo científico".

"Não há um filtro entre o público e as esferas de poder, o que é uma garantia de transparência e de segurança", assegura à Renascença.

Branco acredita que, neste contexto, o futuro passa por educar os cidadãos para saberem interpretar o que leem na comunicação social e também por apostar numa democracia mais direta.

"Estamos a entrar nessa era. Há muitos erros que são cometidos [mas] agora que há acesso a informações confidenciais vamos construir sistemas políticos muito mais fortes", defendeu o advogado durante a conferência. Os referendos, aponta, podem ser uma solução.

"No momento em que as pessoas têm acesso direto à informação e ao funcionamento real do poder, dão-se conta de que as esferas intermediárias, os políticos, não são tão necessárias para defender os seus interesses e com referendos as pessoas expressam diretamente a sua opinião."

Ao seu lado, o jornalista do "BuzzFeed News" Ryan Broderick fez algumas piadas com o Brexit e confrontou Branco com questões que o incomodaram ao ponto de ameaçar acabar ali mesmo a sua intervenção. "Não respondo a mais nenhuma pergunta. É jornalista, mas está a dar a sua opinião, é inaceitável."

O tempo estava quase a terminar, mas Juan Branco ainda respondeu a mais duas perguntas.

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