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Jornada nacional do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência

“Estas pessoas têm, muitas vezes, uma experiência de fé extraordinária"

25 out, 2019 - 23:48 • Teresa Paula Costa

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O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência realiza neste sábado, a partir das 9h30, no Seminário de Santarém, a sua II jornada nacional, subordinada ao tema “Preciso de ti: uma convocação, um desafio à Igreja”.

O evento decorre no seminário de Santarém e é dirigido às pessoas com deficiência, às paróquias e aos movimentos. Segundo Isabel Vale, a diretora do serviço, o evento vai contar com intervenções de várias pessoas com deficiência ou que lidam com pessoas deficientes, como é o caso do pai de uma criança com deficiência profunda que vai falar sobre “A fé na família”. A tarde será preenchida com vários ateliês, pelos quais os participantes da jornada serão distribuídos e em que terão a possibilidade de dizer, “nas diversas formas de comunicação" que têm, "como são os seus caminhos de inclusão na Igreja”.

Considerando que “estas pessoas têm, muitas vezes, uma experiência de fé extraordinária e são uma grande riqueza para quem as encontra e as conhece”, Isabel Vale revela que os testemunhos e conclusões da jornada serão levados à próxima assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, a realizar em novembro, em Fátima.

“O objetivo do serviço é alargar esta pastoral de forma que as pessoas com deficiência tenham o seu lugar na Igreja”. A coordenadora reconhece que ainda muito está por fazer para dar condições de comunicação a estas pessoas e aponta o exemplo das crianças que têm dificuldade em comunicar: "A catequese vai ter de ter os recursos necessários para as incluir”, assume.

O exemplo de Manuel Nunes

Há nitidamente um caminho a percorrer, na opinião de Manuel Nunes. Cego de nascença, nasceu em 1963, numa altura em que nem sequer se falava em ensino inclusivo. Por isso, conta este funcionário da Segurança Social de Faro, foi enviado para uma instituição à responsabilidade de religiosas da irmandade das carmelitas missionárias, o que lhe possibilitou ter uma educação religiosa.

Aos 19 anos foi para Faro onde, para além de começar a trabalhar, ingressou num grupo de jovens, integrando atualmente a equipa de leitores da Sé de Faro e a equipa diocesana da pastoral da pessoa portadora de deficiência. Um convite que aceitou porque desde muito jovem que se preocupa com a inclusão das pessoas portadoras de deficiência na igreja” Manuel Nunes lamenta que os catecismos ainda não estejam acessíveis e, por isso, “há que sensibilizar o secretariado nacional da catequese e todas as dioceses para esse trabalho”.

Para conseguir ler utiliza “um computador, um leitor de ecrã e uma máquina braille”, entre outras tecnologias que são “bastante dispendiosas”. No entanto, revela que “existem apoios estatais e ajudas técnicas".

Manuel Nunes é um caso de sucesso, mas poucos mais são conhecidos, lamenta Isabel Vale. “As comunidades vão fazendo experiências muito interessantes de acolhimento de pessoas com deficiência, mas depois não se comunica e noutros lados começa-se de novo”, explica. Por outro lado, “há catequistas que têm na sua prática normal acolher crianças com deficiência", mas, se surge um catequista novo, ele vê-se "um pouco perplexo" porque "não sabe quem o pode ajudar”.

Isabel Vale chama ainda a atenção para a página do serviço, onde existe "bastante informação sobre os documentos pontifícios e os documentos dos bispos em Portugal".

Surdos sentem mais dificuldades

Relativamente ao país, a ex-assistente social revela que nas pequenas comunidades a integração é mais fácil. “Pela proximidade e porque se conhece as pessoas individualmente, acolhem muito bem, desde pequeninas, as crianças que tem uma deficiência ou um jovem que teve um desastre e ficou com grandes limitações”. Se a comunidade for maior, já há mais problemas "de integração ou comunicação”.

A maior dificuldade reside nos surdos, que apenas conseguem perceber o que é dito através da língua gestual portuguesa. No entanto, nesta área, a Igreja parece estar mais avançada. Isabel Vale diz que já há "algumas paróquias que têm intérpretes na missa dominical" um dos exemplos é dado pela arquidiocese de Braga, onde, na Basílica dos Congregados, há sempre uma missa ao domingo e dias santos com interpretação em língua gestual. Ali existe uma“comunidade de 25 surdos que, "de 15 em 15 dias, depois da missa, se reúne para aprofundar a fé”.

Também na paróquia de Telheiras em Lisboa, na diocese de Coimbra e na paróquia de Lagoa, na ilha de S. Miguel, nos Açores, é celebrada missa com interpretação em língua gestual portuguesa.

A deficiência não é uma área menor: segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, 15% da população tem uma deficiência, ou seja, salienta Isabel Vale, “1 em cada 6 pessoas". Nesta percentagem estão incluídos os idosos, que, devido à idade, têm frequentemente "muitas limitações auditivas e visuais".

Todas estas pessoas “precisam de ser acolhidas com tempo e com disponibilidade de coração, não por normas". Até porque, encontrando tantas dificuldades, são peritas em resolvê-las: "Por isso, queremos muito ouvi-las”, sublinha.

A II jornada nacional do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência decorre das 9h30 às 17h00, no Seminário de Santarém.

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