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Amazónia. Documento final do Sínodo propõe ordenação sacerdotal de diáconos casados

26 out, 2019 - 20:10 • Agência Ecclesia

Texto aprovado por maioria de dois terços pede também a criação de um rito amazónico.

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O documento final do Sínodo especial dos Bispos de 2019, aprovado hoje no Vaticano, admite a ordenação sacerdotal de diáconos casados, tendo em vista a celebração dominical da Eucaristia nas regiões “mais remotas” da Amazónia.

O ponto 111, aprovado com 41 votos contra (o número mais alto nos 120 pontos do documento) e 128 a favor, propõe a “ordenação sacerdotal de homens idóneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconado permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado”.

O sacerdócio está reservado, na Igreja Latina (que engloba a maioria das comunidades católicas no mundo, como em Portugal), a homens solteiros; alguns ritos próprios, em comunhão com Roma, admitem a ordenação de homens casados como padres.

Os participantes no primeiro Sínodo especial para a Amazónia pede que se permita a ordenação de homens com “família legitimamente constituída e estável”, para “sustentar a vida da comunidade cristã através da pregação da Palavra e a celebração dos Sacramentos nas zonas mais remotas da região amazónica”.

“A este respeito, alguns pronunciaram-se em favor de uma abordagem universal do tema”, acrescenta o documento final.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio; o diaconado exercido por candidatos ao sacerdócio só é concedido a homens solteiros.

O documento final do Sínodo 2019 evoca as “enormes dificuldades” que as comunidades eclesiais do território amazónico enfrentam para “aceder à Eucaristia”, com meses ou anos sem a presença de um padre que possa presidir à Missa.

“Existe um direito da comunidade à celebração, que deriva da essência da Eucaristia e do seu lugar na economia da salvação”, pode ler-se.

Os participantes falam do celibato como um “dom” na Igreja Católica, mas sublinham que se trata de uma opção da “disciplina” da Igreja latina, que é diferente no contexto da “pluralidade dos ritos e disciplinas existentes”.

Uma das preocupações manifestadas relaciona-se com a formação dos futuros sacerdotes, desejando que seja dada mais atenção à “realidade da Amazónia”, à história dos seus povos e da missionação católica na região, além das preocupações ecológicas e culturais.

Foto LusaO documento final apela à criação de estruturas “sinodais” nas regiões da Amazónia, propondo um “fundo amazónico” para o sustento da evangelização, bem como a criação de universidades próprias e um “organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as Igrejas da região”.

Esta matéria está no centro dos pontos 117 (27 votos contra e 140 favoráveis) e 119 (29 contra e 140 a favor), que apontam à criação de um rito amazónico, recordando que a Igreja Católica tem 23 ritos diferentes, procurando “inculturar os conteúdos da fé e da sua celebração”.

“É necessário que a Igreja, no seu incansável labor evangelizador, trabalhe para que o processo de inculturação da fé se expresse nas formas mais coerentes, a fim de que também se possa celebrar e viver segundo as línguas próprias dos povos amazónicos”, refere o texto.

Na Igreja Católica existem os ritos latinos (tendo por base o rito romano e admitindo as variantes dos ritos ambrosiano, hispânico e outros, como o bracarense) e ritos orientais (especialmente o bizantino).

Os participantes no Sínodo 2019 pedem a elaboração de um novo “rito amazónico”, que “manifeste o património litúrgico, teológico, disciplinar e espiritual” dos povos da região, no contexto de uma “descentralização e colegialidade que pode manifestar a catolicidade da Igreja”.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Esta assembleia de bispos foi anunciada pelo Papa a 15 de outubro de 2017, para refletir sobre o tema ‘Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’.

A região pan-amazónica tem uma extensão de 7,8 milhões de km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; dos seus cerca de 33 milhões de habitantes, 3 milhões são indígenas pertencentes a 390 grupos ou povos.

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