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“Passo histórico”. Erradicado mais um tipo do vírus da poliomielite

24 out, 2019 - 13:11 • Marta Grosso com agências

“É um marco importante, mas não podemos relaxar”, avisa diretor da OMS. A poliomielite invade o sistema nervoso e pode causar paralisia irreversível em poucas horas.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) saudou esta quinta-feira o "passo histórico" dado rumo a um mundo livre da pólio. É a reação ao anúncio de um painel de especialistas, que certificou a erradicação global do segundo dos três tipos do vírus incapacitantes.

O anúncio da Comissão Global para a Certificação da Erradicação da Poliomielite significa que apenas o vírus selvagem da poliomielite tipo 1 ainda está em circulação, depois de o tipo 2 ter sido declarado erradicado em 2015 e o tipo 3 nesta semana.

Desde 1988, os casos globais de poliomielite foram reduzidos em mais de 99%, mas o vírus tipo 1 ainda é endémico no Paquistão e no Afeganistão, onde infetou um total de 88 pessoas este ano.

Na verdade, trata-se de um ressurgimento, depois do recorde alcançado em 2017, com 22 casos.

"A erradicação do vírus selvagem da pólio tipo 3 é um marco importante para um mundo livre da pólio, mas não podemos relaxar", avisa Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para África.

Também Seth Berkley, executivo-chefe da aliança GAVI (uma parceria de entidades públicas e privadas para salvar vidas de crianças), diz que "foi uma tremenda vitória na luta contra a poliomielite".

O que é a poliomielite e como prevenir?

A poliomielite invade o sistema nervoso e pode causar paralisia irreversível em poucas horas. Não tem cura, mas a infeção pode ser prevenida através vacinação.

Aliás, uma redução drástica nos casos em todo o mundo nas últimas décadas deve-se às intensas campanhas nacionais e regionais de imunização em bebés e crianças.

Em populações não vacinadas, no entanto, os vírus da poliomielite podem ressurgir e espalhar-se rapidamente.

Também podem ocorrer casos derivados da vacina em locais onde a imunidade é baixa e o saneamento mau, pois as pessoas vacinadas podem excretar o vírus, colocando em risco os não vacinados.

Em outubro, as Filipinas anunciaram a preparação de uma campanha de vacinação de emergência, depois de a poliomielite ter ressurgido. Depois de 20 anos sem a doença, o país registou dois casos.

O diretor da OMS para África instou, por isso, os governos a serem vigilantes: "Os países devem fortalecer a imunização de rotina para proteger as comunidades e intensificar a vigilância de rotina para que possamos detetar até o menor risco de ressurgimento da poliomielite.

Campanha contra a poliomielite foi “mais inteligentes em Portugal”

A diretora-geral da Saúde segue a mesma linha da OMS e diz que o combate à doença tem de ser global, tendo como principal arma a vacinação.

“É um combate organizado à escala mundial com muitos, muitos e muitos milhões de euros investidos em vacinação e na logística dessa vacinação”, sublinha.

“Nenhum país pode descurar a vacinação, porque se não tapamos de um lado e destapamos do outro”, acrescenta, em declarações à agência Lusa.

“Mesmo não tendo a doença, temos de continuar a vacinar, a vacinar, a vacinar, até que um dia possamos dizer que desapareceu como aconteceu com a varíola, que em 1980 foi dada como erradicada em todo o mundo”, sustenta.

Graça Freitas recorda que a luta contra a pólio começou na década de 1950, nos Estados Unidos.

Nessa altura, “a poliomielite era a doença que mais assustava os pais e as pessoas em geral, porque afetava crianças muito pequenas e causava mortes e paralisia infantil”.

O Presidente norte-americano Franklin Roosevelt, que tinha sido vítima da doença e estava numa cadeira de rodas, decidiu fazer um grande investimento.

“Foi a primeira vez que se fizeram campanhas enormes na televisão para recolha de fundos” para a investigação e descobriram-se duas vacinas, que foram introduzidas à escala mundial.

Em Portugal, o Programa Nacional de Vacinação fez “uma campanha enorme” em 1965. Em cerca de um ano, foram vacinadas três milhões de crianças menores de nove anos, recorda a diretora-geral da Saúde.

Entre 1950 e 1975, todos os anos, em média, cerca de 300 crianças adoeciam com poliomielite e cerca de 30 morriam em Portugal.

“Foram das campanhas mais inteligentes feitas em Portugal porque fez com que no espaço de um ano uma doença que era assustadora para toda a gente praticamente desaparecesse graças à ação de uma vacina”, diz Graça Freitas.

Em Portugal, a vacinação fez tanto efeito que o último caso de pólio selvagem aconteceu em 1986, contando que a doença foi eliminada na Europa em 2002.

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