Camionistas dizem que parques das fronteiras “não têm condições nenhumas"

22 out, 2019 - 07:37 • Liliana Carona

“Não temos onde aquecer a comida, nem lavar a loiça ou tomar banho”. A Renascença ouviu testemunhos de quem anda na estrada.

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O Governo anunciou, na passada sexta-feira, estarem a ser ultimados "os pormenores" para se preparar o caderno de encargos, para lançar o concurso para o projeto de requalificação do Parque TIR em Vilar Formoso, que deverá estar concluído no final do próximo ano. Mas na fronteira em Vilar Formoso, os camionistas garantem que os problemas se verificam por todos os parques fronteiriços do país: Não há balneários nem iluminação, o piso está degradado e em alguns casos colocam-se questões de segurança na pernoita, garantem Filipe e Sandra, ambos motoristas internacionais.

Têm dois filhos e todas as semanas saem de Castelo de Paiva rumo a Alemanha para transportar 24 toneladas de cerâmica. Uma vida dura, dizem em uníssono, Filipe e Sandra. Pararam para cozinhar o almoço ali mesmo no camião, no parque TIR de Vilar Formoso. Não sabiam que tinham sido anunciadas obras para aquele parque, mas felicitam a iniciativa porque sentem a falta de condições para poderem trabalhar.

“Abrimos este depósito de água e lavamos aqui a loiça, é vida de motorista e é assim há 20 anos, para levar algo para casa, para os filhos”, mostra Filipe Soares, 44 anos, agachado de cócoras sobre uma pilha de louça. “Não temos um balneário, nem duche, os motoristas botam o lixo por aí fora, por não haver caixotes suficientes”, acrescenta Filipe, sublinhando que no estrangeiro as condições são diferentes.

“Vamos para França, temos onde aquecer a comida, onde lavar loiça, aqui não”, relata. Antes de partir para Frankfurt, o camionista Filipe Soares, conta à Renascença, que Vilar Formoso não é caso único no país. “Vamos por aí fora, não temos um parque digno, só temos bombas de gasolina, em todas as fronteiras é igual, Valença do Minho, lá não há nada mesmo”, desabafa.

Filipe é camionista internacional tal como a esposa, Sandra Cardoso, 43 anos, que pondera mudar de vida, pela falta de condições que encontra no trabalho que escolheu há oito anos. “Não há segurança nenhuma, estou cheia disto, isto é pior quem um cão, já disse ao meu marido - ‘vou regressar aos autocarros, porque isto para mim não é vida’”, diz comovida. “Temos regalias, ganhamos um bocadinho acima da média, mas é uma vida de alto risco em todos os sentidos”, sublinha.

Nem condições para as mulheres, nem condições para os homens. Também o camionista Joaquim Sousa, 57 anos, há 32 anos a percorrer o caminho para a Bélgica e outros países, faz a higiene nos cafés de Vilar Formoso.

“E se não quisermos tomar nada temos que consumir, porque não podemos entrar só para fazer a higiene, estas obras já vêm tarde”, lamenta o motorista, confirmando a tese de outros de que o cenário se repete nas restantes fronteiras. “O Caia e esta de Vilar Formoso que são as principais fronteiras, estão uma miséria”, garante Joaquim Sousa.

O camião é quarto e cozinha, onde a camionista Sandra Cardoso, prefere fazer comida caseira, num fogão improvisado. “Estou a fazer legumes cozidos com peixe, porque esta vida é muito parada e se vamos a comer o que nos apetece...”, sorri.

A intervenção a realizar no Parque TIR, reivindicada há largos anos, pelo Município de Almeida, enquadra-se no âmbito do Projeto Integrado de Intervenção, Reabilitação e Revitalização da Zona de Fronteira de Vilar Formoso, devido à construção do troço final da autoestrada A25 de ligação entre Vilar Formoso e a fronteira.

A terceira reunião do grupo de trabalho grupo de trabalho constituído pelo Governo para revitalizar a fronteira de Vilar Formoso, no concelho de Almeida, distrito da Guarda, será realizada no dia 8 de novembro.

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  • 26 out, 2019 08:39
    Sandra Cardoso e Felipe Cunha são meus compadres e falamos muito sobre esta situação, é triste chegar em outros países e ver as condições oferecida, que não tem nada a ver com o nosso país, fico à pensar em que realmente os nossos governantes estão preocupados, pois à educação às notícias são um caos, a saúde é como é, a segurança nem se fala, qual a prioridade neste país, tirei carta de pesados e a princípio era pra mercadoria, mais desistir.... Vamos ver se isto muda.

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